O PT enfrenta nesta semana o seu mais complexo desafio desde que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência da República e a legenda se consolidou como a mais importante força político-partidária do País. O PT vai ter que superar os enormes obstáculos à reforma da Previdência e garantir a aprovação, com o menor número de alterações possível, do texto enviado pelo Palácio do Planalto ao Congresso Nacional.

É uma tarefa de extrema complexidade, por pelo menos dois motivos. Em primeiro lugar, devido à dificuldade do governo de contornar as resistências que o texto original vem enfrentando de setores expressivos da sociedade (especialmente do funcionalismo público federal), do Poder Judiciário e do próprio Congresso, onde a base de oposição ao Planalto, sobretudo o PSDB e o PFL, vem impondo grande desgaste ao governo Lula.

Por suas implicações político-eleitorais, é o segundo motivo que nos interessa discutir com mais atenção. O PT corre o sério risco, nas negociações para garantir a aprovação da reforma da Previdência, de sepultar todas as esperanças da sociedade na realização das promessas do partido de ser uma alternativa de poder diferente das demais e realmente identificada com os interesses da nação.

Se o PT quiser continuar usufruindo do respeito da sociedade, confirmado pelas pesquisas de opinião sobre o governo Lula, terá de conduzir essas negociações com notável habilidade e firmeza, evitando ceder ao fisiologismo barato dos políticos profissionais do Congresso e à cobiça dos partidos aliados por cargos, que estão interessados apenas em trocar apoios por benesses. Só assim o PT estará sendo coerente com sua tradição histórica de partido ético e realmente basista.

Caso o governo não consiga atingir esse objetivo, porém, as conseqüências serão desastrosas, seja do ponto de vista estritamente eleitoral, seja do ponto de vista político. Eleitoralmente, o PT estaria jogando por terra a chance de ampliar significativamente o número de prefeituras nas eleições de 2004, e, depois, de estados administrados pela legenda, em 2006. Politicamente, o efeito seria ainda mais danoso porque eliminaria o resto de confiança que a sociedade deposita nas instituições político-partidárias.

Dada a gravidade desse fato, torna-se evidente que o governo e o PT não devem estar preocupados em dar uma inequívoca demonstração de força ao vencer a votação da reforma, no plenário do Congresso Nacional. Devem, antes de qualquer coisa, fazer todos os esforços para preservar a linha ética que marcou o ato de fundação do partido, e da qual muitos petistas estão cada vez mais distantes.

Por enquanto, ao que parece, as principais lideranças do PT vêm fraquejando nessa tarefa. Nesta semana, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, avisou à base aliada que a liberação das verbas para as emendas dos parlamentares só será feita depois da votação da reforma da Previdência. O PMDB, adiantou Dirceu, será o principal beneficiado. Decididamente, não é assim que um partido ético e de base popular age. A esperança dos 52 milhões de eleitores que votaram em Lula é que o governo perceba isso a tempo de evitar o pior.

Aurélio Munhoz (politica@parana-online.com.br) é editor-adjunto de Política de O Estado e mestrando em Sociologia Política pela UFPR.

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