Eureca! Parece que, afinal, descobrimos qual o projeto econômico de governo de Lula e do PT. A pregação anterior à abertura das urnas que revelaram a estrondosa vitória do persistente ex-metalúrgico ficou no passado. Eles, que queriam um regime de esquerda, bem parecido com o comunismo, só que sem apetite por comer criancinhas, ao chegar ao poder viram e sentiram que o buraco ficava bem mais embaixo. “É difícil governar”, disse Lula por diversas vezes, depois que assumiu. E seu governo começou a seguir a mesma linha de política econômica da administração FHC, com a busca desesperada de superávits primários, acordos com o Fundo Monetário Internacional, enfim, o mesmo que fazia a equipe econômica anterior. Mas com maior rigor. Economizar uma parcela cada vez maior do PIB para pagar a dívida externa foi a ordem. Mais do que a que aceitava o governo anterior.
O resultado foi o que estamos vendo. Não sobra dinheiro para desenvolver o País e o resultado mais simples e mais doloroso de tudo isso é o desemprego. Tudo indica que o que o governo Lula pretende, ao imitar a política econômica de seu antecessor, é um dia livrar o País de sua enorme dependência do capital externo de empréstimos. Aceita o capital de risco, ou sejam, os investimentos diretos estrangeiros. Mas quer diminuir ao máximo e, se possível, pagar os empréstimos, o que exige apertar o cinto até pôr a língua de fora.
Desde o começo do governo Lula, os petistas de carteirinha, fiéis às bandeiras de esquerda do partido, hoje alguns expulsos do partido, reclamam dessa política e acusam o presidente e sua turma de haver traído o povo. Não traíram, não. Apenas se dobraram à realidade dos fatos. Moratória era coisa muito bonita para discursos e passeatas, mas seu preço seria insuportável. A saída é pagar e pagar ao máximo, nem que isso faça com que o povo brasileiro tenha de engolir sapos por muito tempo.
O PIB brasileiro, ou seja, a soma de tudo o que o País produz, não cresceu no primeiro ano de governo. Pelo contrário, diminuiu. O Brasil, em matéria de economia, encolheu 0,2%. Mas Henrique Meirelles, presidente do Banco Central e homem que veio do partido de FHC, minimiza o problema, lembrando que no último trimestre do ano passado o País teve um crescimento de nada menos de 6,14% do PIB. Um dos maiores do mundo, festejou. E acena para um crescimento contínuo, a partir de agora.
Pelo sim, pelo não, os petistas que eram ortodoxos e aderiram ao modelo econômico atual, que é o mesmo de FHC, só que mais rigoroso, começam a engrossar as vozes dos que querem um superávit primário menor ou pelo menos flexível. O pagamento da dívida externa em menor volume, sobrando alguma coisa para oferecer bem-estar aos brasileiros. Enquanto quem pedia isso eram Heloísa Helena, “Baba”, a deputada Genro e outros expulsos do PT, nada indicava que a política econômica poderia mudar. Agora, entretanto, quem está defendendo uma meta de superávit menor é o presidente do PT, José Genoino, um dos algozes dos ortodoxos que foram expurgados do partido. E, ele próprio, um ex-guerrilheiro e por décadas homem das trincheiras das esquerdas.
Antônio Palocci Filho, ministro da Fazenda, acha que é cedo para diminuir o aperto ou para uma política flexível.
Já sabemos o que querem. A torcida é saber quem vencerá, internamente, essa luta. Se os que querem progresso já ou os que vão esperar para o próximo governo o espetáculo do desenvolvimento.