Não se deve dar muita importância ao choro de Luiz Inácio Lula da Silva na solenidade em que a Justiça Eleitoral declarou o ex-metalúrgico formalmente eleito presidente da República do Brasil. Qualquer um haveria de se emocionar naquelas circunstâncias, talvez mais pela antevisão da responsabilidade que pelas considerações sobre a façanha que, sem dúvida, agrega um patamar especial na vida do cidadão. Lula, aliás, está se repetindo nas lágrimas. No mesmo dia chorou também no restaurante, para a pequena platéia que lhe acompanhou no almoço, regado no final a poire, uma bebida que desenterrou a lembrança de Ulisses Guimarães. “Sou um presidente chorão”, assumiu antes do brinde.
O choro acrescenta, entretanto, algo especial no marketing até aqui desenhado para o novo governo. Lula disse e repetiu diversas vezes que não quer um governo regido apenas pelas estatísticas, leis e convenções; precisa ser guiado pelo coração. E coração – os humanos sabem – tem dessas coisas. Lágrimas e emoções fazem parte, para usar o jargão da moda.
Um rápido retrospecto não nos deixa ver nenhum momento de emoção lacrimejante em presidentes recentes como Geisel, Figueiredo, Sarney, Itamar e, mesmo, Fernando Henrique Cardoso. Até Fernando Collor engoliu em seco o drama de seu impeachment quando, na verdade, deveria estar querendo chorar de raiva. Lula revela-se, assim, um líder cuja diferença está também na emoção, ou na forma de manifestá-la em público. Sem dúvida, mais próxima daquela maneira que tem o povo no trato das questões que faz o dia-a-dia das pessoas.
Quantos choraram de alegria no dia do recebimento do diploma, depois de uma árdua ou financiada caminhada pelos bancos escolares? Pois Lula -e foi ele mesmo quem o disse entre soluços – agora também tem diploma. “Eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de Presidente da República de meu País” – disse ele, provavelmente num desabafo antes ensaiado. Suas lágrimas fizeram outras, e choraram também o vice José de Alencar, o presidente do Senado, Ramez Tebet, e até mesmo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Nelson Jobim, para quem “um diploma conferido pela maioria de uma Nação é melhor do que qualquer outro”.
Como todo diploma, também este fez o diplomado realizar uma rápida regressão em sua vida. Lula lembrou a calça marrom com suspensório que lhe acompanhou à escola primária, diferente dos outros meninos bem vestidos. Como em dia de formatura, o sonho mistura-se à realidade: todas as crianças indo à escola com uniformes bonitos e limpos. Promessa que se agrega às três refeições diárias que quer para cada brasileiro (deixemos de lado aqui a outra promessa balbuciada entre lágrimas, que preconiza uma harmonia sem precedentes entre os três Poderes).
Bem-vindo, Lula, ao clube dos diplomados. Aqui na planície torcemos para que este sonho de formatura emocionada não seja mais um, dentre milhares, a frustrar diplomados Brasil a fora.