O prefeito eleito

O prefeito de Curitiba, agora eleito, Beto Richa, tem tudo para ser um bom prefeito. Por sua formação de engenheiro; pela experiência de político com dois mandatos de deputado, além de vice-prefeito; pela experiência administrativa como secretário de Transportes do município tem uma bagagem que lhe permite desempenhar muito bem o seu mandato.

Será capaz de ler a geografia de Curitiba, quanto mais agora que palmilhou o município na campanha eleitoral, vendo os problemas mais distantes e reivindicações mais próximas. E, com base na leitura da geografia do município, orientar o planejamento para sua administração, com vistas para o presente e o futuro da cidade.

Um planejamento, certamente, condicionado ao orçamento do município, mas onde se estabeleçam prioridades de necessidades públicas, estas sempre bem maiores do que os recursos. Um planejamento em que se estabeleçam metas para execução pelos secretários e acompanhada por um órgão de controle. Nada de entregar as secretarias aos secretários e deixar a estes as decisões sobre os objetivos e etapas de suas gerências, como costuma acontecer. Objetivos e metas das secretarias devem estar harmoniosamente subordinados ao Plano de Desenvolvimento e Administração da cidade e, conseqüentemente, sua execução.

A experiência política deve possibilitar ao prefeito eleito barganhar com os vereadores a aprovação dos atos legislativos necessários à realização de suas iniciativas, sempre voltadas para o bem público. Mas, barganhar no sentido de negociar, lisamente, sem se conspurcar com alguém menos escrupuloso. Nos limites máximos de um atendimento de reivindicação justa do bairro ou região de que o vereador seja representante.

Negociar com os contribuintes na realização das obras e serviços e na fixação e cobrança dos tributos. Negociação que não precisa ser pelo processo comum da presença e diálogo, mas pela publicidade objetiva das proposições e justificativas, deixando aos interessados suas manifestações. E ouvi-las. E ou por consulta aos possíveis usuários ou beneficiários: “Que tipo de calçada você acha mais conveniente para sua rua?, “Qual o problema maior de seu bairro?”, etc. Publicidade, assim, e até como meio de obter a adesão e tolerância para obras que, provisoriamente, incomodam. Mas, não, a propaganda laudatória.

Teste vai ser sua resistência às “cobranças eleitorais”. Não se pode negar-lhe a aceitação de nomes para a composição de seu secretariado pelos partidos que compuseram sua coligação. Mas nomes que se enquadrem nos critérios de competência e honestidade. Para preenchimento de outros cargos, pelos mesmos critérios, como participação efetiva na administração, sempre orientada segundo o plano estabelecido. Neste ponto, toda a confiança e a esperança do povo podem sucumbir, se o prefeito não passar pela prova.

Já as primeiras indicações de nomes que aparecerem e revelarem ligações perigosas e com o passado repudiado, com a eleição do governador Roberto Requião, e cujo estigma emblemático foi a tentativa de venda da Copel, criarão uma expectativa sobre a resistência do prefeito. A confirmação de algum suspeito será um lançamento a débito na credibilidade do prefeito.

Suas primeiras palavras, após os resultados da eleição, são de uma postura digna: administrar para todos os que vivem em Curitiba.

Vamos desejar-lhe sucesso e longa careira. E esperar.

J. Ribamar G. Ferreira é advogado e professor aposentado da Universidade Federal do Paraná.

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