À luz da história, é recente a campanha pelo monopólio estatal do petróleo no Brasil. Foi uma luta nacionalista, apoiada pela maioria da população e com vigorosa participação das esquerdas. Levantaram-se várias vozes influentes, dentre elas a do escritor Monteiro Lobato. A ele, ao que parece, deve-se a autoria ou inspiração do bordão ?o petróleo é nosso?, repetido em coros e faixas nas passeatas populares. O objetivo era afastar os estrangeiros da riqueza que se escondia no nosso subsolo e, principalmente, no mar. Empresas multinacionais insistiam que não tínhamos petróleo economicamente explorável ou capacidade técnica para retirá-lo das profundezas. Cobiçavam o negócio para si.

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Nasceu a Petrobrás (em 1992, retirou-se o acento da oxítona) como estatal e monopolista, situação que durou por décadas e só veio a ser modificada recentemente. Hoje, a Petrobras é uma estatal, se estatal considerarmos empresas cujo controle pertence ao Estado, embora a grande empresa tenha milhões de acionistas particulares. Monopolista não é mais, pois o Brasil convenceu-se de que para alcançar a auto-suficiência na produção não poderia continuar insistindo com os limitados recursos captados só no País. Hoje o capital estrangeiro atua no setor, mas sob controle.

Longe dos olhos e do entendimento do povo, a verdade é que a Petrobras acabou se tornando uma multinacional, destino de todas as empresas que foram pequenas, ficaram médias, depois grandes e um dia ultrapassaram fronteiras como destino indescartável de quem precisa crescer. A estatal que garantia que o petróleo é nosso agora é dona ou sócia de várias empresas petrolíferas mundo afora. Dentre os países que receberam vultosos capitais da Petrobras está a Bolívia, o país vizinho que acabou descartando suas oligarquias e entregando o governo ao esquerdista Evo Morales, um índio que liderava os ?cocaleros?, agricultores plantadores de coca. Aquela mesma erva que produz a cocaína, alguns chás que fazem parte da dieta dos bolivianos e é mastigada para mitigar a fome do povo pobre.

Evo é, no campo ideológico, companheiro do nosso presidente Lula, ambos dizendo-se de esquerda e socialistas. Companheiros de Hugo Chávez, da Venezuela, e do novo presidente do Equador, grupo de líderes latino-americanos que reacionariamente tenta fazer renascer uma ideologia que ruiu com a queda do Muro de Berlim e a implosão da União Soviética. Façamos justiça: Lula, se é de esquerda e socialista, não é nada fanático, pois vem governando como um neoliberal, xingação que endereçava ao seu rival Fernando Henrique Cardoso. Pois o companheiro Evo Morales fez o que no passado pregavam os nacionalistas e esquerdistas brasileiros. Declarou, lá em Bogotá, que o petróleo da Bolívia é deles, dos bolivianos. E tomou do Brasil duas refinarias da Petrobras, seu direito à exportação do produto e garantiu tudo com suas forças armadas.

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Lula contemporizou, mas acabou tendo de reagir, chegando a falar em interromper novos negócios com a Bolívia e levar o caso às cortes internacionais. Mas logo chegaram a um acordo. O Brasil vendeu as duas refinarias ao governo boliviano por US$ 112 milhões. Acontece que desde a aquisição o Brasil investiu muito dinheiro nas refinarias da Petrobras na Bolívia e seu preço de mercado subiu. O deputado Augusto Carvalho, do PPS-DF, pediu ao Tribunal de Contas da União e este aceitou a realização de uma investigação. O companheirismo ideológico teria custado ao Brasil um prejuízo da ordem de US$ 70 milhões. É a globalização ideológica versus a globalização econômica mexendo no nosso bolso. O petróleo que era nosso agora é deles.