O paranaense Roberto Busato, presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, é hoje uma voz respeitada em todo o País. Sua liderança nacional extrapolou o âmbito da classe dos advogados para influir na organização de toda a sociedade, desde que lançou a Campanha Nacional em Defesa da República e da Democracia. Para Busato, as instituições não estão em perigo. Acreditar nisto seria um exagero, pois no mundo democrático elas amadureceram e resistem à corrupção e ao descrédito que as atacam. Mas não sem abalos. O povo percebeu que as instituições estão impregnadas de maus hábitos e aproveitadores e que, ou são reformadas, ou descumprirão por inteiro o seu papel. Aí, então, é possível que uma crise institucional possa nos abalar, quebrando-se o equilíbrio indispensável entre os poderes da República. Mas é verdade que caminhos dolorosos de salvação das instituições já foram seguidos no Brasil, como foi o caso do impeachment do presidente Collor.
Falando a uma agência de notícias, Busato chamou a atenção do País para a avalanche de denúncias de casos de corrupção, considerando isso muito grave e que está afetando não só o governo Lula, mas também o Estado de Direito, com um aumento generalizado da desconfiança da população em relação à classe política. O presidente da OAB credita a Lula autoridade moral suficiente para mudar os rumos do governo e só ele pode fazê-lo. Está – ainda – descolado do desgaste político que atinge a sua administração. O povo tende a acreditar que o governo é mau, mas Lula merece ainda um voto de confiança.
Busato prega uma faxina moral nas instituições, ou o desgaste destas levará ao ceticismo quanto à eficácia da própria democracia. Para ele, o que não pode continuar é o ?atual sistema político disfuncional e indutor da corrupção. Cada governante, não importam as boas intenções com que chega ao poder, torna-se refém da necessidade de construir maioria parlamentar. Nesse sistema, cada votação é precedida de negociações em busca de apoio, onde a moeda de troca são os cargos da administração pública, exposta à sanha dos abutres do dinheiro público?.
Descreve o processo de montagem dessa máquina de corrupção começando pela necessidade do governante de conquistar maioria. E acrescenta que cada ocupante de cargo público vai adentrando o poder com sua fome de vantagens e acrescentando, sob si, outros corruptos. O resultado é a montagem de uma máquina administrativa e política toda voltada para as vantagens pessoais e incapaz de oferecer um governo com um mínimo de decência. Uma máquina de aproveitadores.
Busato não disse, mas por certo não lhe escapou a necessidade urgente de uma reforma política ampla, que entregue aos partidos políticos a responsabilidade pela oferta ao eleitorado de candidatos competentes e decentes. Essa primeira peneira ensejaria que, abaixo dos eleitos diretamente, os seus escolhidos ocupantes de cargos de confiança fossem de qualidade melhorada, moralizando os atos da administração e da gestão política.