O governo tinha todas as informações sobre as intrigas de inimigos políticos do ministro Romero Jucá (PMDB-RR), na tentativa de lançar empecilhos à sua nomeação para o primeiro escalão do governo.
Sendo real a afirmação, o presidente Lula dispensou o cuidado de aguardar informações mais consistentes, cometendo um erro infantil que lhe cobra pesados juros. Ferido no amor-próprio pela boçalidade de Severino ao exigir a nomeação do protegido para o Ministério das Comunicações, Lula arquivou a reforma ministerial e acabou pagando o pato da indicação de Jucá.
As intrigas urdidas contra o ex-líder de FHC no Senado – afinal, trata-se de relevante figura política em Roraima -não foram motivação suficiente para desviar a atenção dos auditores da Receita Federal. Examinando as contas de certa Fundação Roraima, instituída com o fim exclusivo de minorar a penúria dos carentes do longínquo estado, descobriram que a mesma foi usada como braço eleitoral pelo atual ministro.
Nos governos Collor e Itamar, a fundação teria recebido cerca de R$ 1,6 milhão, dos quais pelo menos 80% foram desviados para fins não necessariamente ligados à assistência social. Cheques assinados por Romero Jucá foram emitidos para cobrir despesas pessoais e eleitorais próprias e de familiares.
A auditoria da Receita, concluída em janeiro de 1995, mostra que o ministro seria responsável pela apropriação de algo em torno de R$ 1,45 milhão repassado pelo Tesouro Nacional à Fundação Roraima, cuja função era comprar alimentos, roupas, calçados e remédios e doá-los aos pobres.
O presidente Lula não tem mais desculpas para manter o senador Romero Jucá no ministério. Os próprios senadores do PMDB negam que a indicação tenha tido o apoio da bancada, classificando-a como escolha pessoal do senador Renan Calheiros.
A nomeação de Jucá, em momento algum, poderia ser interpretada pelos históricos como reforço da participação do PMDB no governo. Ao contrário, consignam à dispensa do exame dessa condição curricular indispensável a quem aspira cargo tão relevante a onda de dissabores colhida pelo presidente.