Fundo Monetário Internacional passou de inimigo a parceiro. Era considerado pelos petistas que hoje governam o País uma entidade do capitalismo internacional, que intervinha nos nossos assuntos internos. Isso foi quando o PT ainda se dizia de esquerda e era oposição. No governo, agiu dentro da política econômica neoliberal que execrava. O governo Lula foi cliente do FMI, como o foram outros governos brasileiros. A diferença entre as relações deste governo e os do passado com o FMI foi de intensidade. O governo lulista praticou políticas de ajuste fiscal recomendadas pelo Fundo com muito mais paixão do que, por exemplo, a administração FHC. Resultado: os credores ficaram felizes e o Fundo satisfeito. E, finalmente, numa atitude inesperada, o Brasil pagou adiantadamente mais de 15 bilhões de dólares que tomara emprestado, a juros bem razoáveis, se cotejados com os praticados no mercado internacional. Essa atitude serviu para batermos no peito e proclamar independência e boa saúde financeira, além de calcular uma economia anual de juros da ordem de US$ 900 milhões. Se foi ou não um bom negócio, o futuro dirá. A esperança do nosso governo é que a antecipação sirva para firmar diante do mundo econômico e financeiro a convicção de que o Brasil é um país sério e que tem uma gestão competente, merecendo investimentos diretos e empréstimos a juros mais baixos do que até aqui nos têm concedido.
Em princípio, esse resultado começou a ser colhido. O risco Brasil caiu aos níveis mais baixos já registrados em nossa história. O dado ainda negativo é que, mesmo baixo, esse risco ainda é o maior que atribuem para os países em desenvolvimento como o nosso.
O espanhol Rodrigo Rato, diretor-gerente do FMI, veio ao Brasil e foi recebido por Lula, Palocci, Meirelles e Dilma Rousseff e mais alguns notáveis do atual governo. Sua visita foi para uma cerimônia comemorativa do pagamento antecipado da dívida brasileira para com o FMI.
Foram convidados os grandes empresários nacionais Roberto Setúbal (Itaú), Benjamin Steinbruch (Companhia Siderúrgica Nacional) e Abílio Diniz (Grupo Pão de Açúcar). Nenhum deles compareceu à cerimônia. Ou não deram ao pagamento antecipado da dívida a importância que o governo lhe atribui; ou estavam muito ocupados ou demasiado preocupados com os caminhos que segue a atual administração. Lula, como sempre, fez um discurso ultra-otimista, pintando de cores róseas o nosso presente e futuro próximo. E de celestiais o futuro mais distante. Rato, falando por cerca de 20 minutos, fez um sermão econômico, dizendo que ?não se pode relaxar da disciplina fiscal após colher os primeiros frutos?. O representante do FMI previu que ?não haverá mais décadas perdidas, crises de dívida e megapacotes financeiros. Mas ainda é preciso aumentar a capacidade de crescimento?. O Brasil ?pode ainda ir mais longe, pois não está aproveitando todo o seu potencial de crescimento?.
?Ainda há vários desafios a vencer para que o País alcance seu vasto potencial de crescimento sustentado e atenda aos anseios e às necessidades de seu povo?, disse o diretor-gerente do FMI. A impressão deixada foi que, enquanto os dirigentes brasileiros soltavam rojões, o Fundo discretamente estourava alguns traques…