O papo nas ondas

Foi o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt quem inaugurou o rádio como instrumento de comunicação do chefe de uma nação com o seu povo. Ele comparecia aos microfones, numa “conversa ao pé do fogo”, e falava à sociedade. Um papo então muito apreciado e mesmo necessário, pois sequer existia a televisão.

O rádio mantém grande força de comunicação, em especial em países imensos como o Brasil, onde meios mais sofisticados ainda não são disponíveis para todos. Há também componentes culturais que valorizam a transmissão pelas ondas do rádio, onde os programas em geral se nivelam à capacidade de entendimento dos ouvintes.

Lula, inteligentemente, tem usado o rádio como instrumento de comunicação. Mantém o programa “Café com o Presidente”, um meio de aproximar-se do cidadão comum e expressar idéias e preocupações, partilhando-as com o povo.

Num de seus últimos papos pelo rádio, Lula convocou os empresários a investir mais no País no atual momento de retomada do crescimento econômico. Que estejamos num momento de retomada do crescimento econômico, há indícios e até apostas. Certeza, ainda nenhuma. Mas é bom pensar positivo.

Apelar aos empresários a fim de que aproveitem o ensejo para investir mais no País soa como sonho de uma noite de verão, pois isso não depende de boa retórica, nem mesmo de um presidente da República bom de conversa. A maioria dos empresários brasileiros não ouve rádio. Não ouve porque tem meios mais sofisticados de comunicação à sua disposição, preferidos por pessoas de seu nível cultural e ainda por falta de tempo. Em segundo lugar, porque a decisão de investir não se toma porque Lula quer, mas porque existem próprios disponíveis e a custos razoáveis e recursos para tanto. E oportunidades lucrativas no curto, médio e longo prazos. De preferência, no curto e médio prazos, pois o futuro distante a Deus pertence. A fé que os homens do governo expressam sobre o futuro do País, com um ciclo permanente de desenvolvimento econômico que já teria sido iniciado, não é partilhada por todos os brasileiros e muito menos pelo empresariado. A decisão de investir exige análises que um apelo num programa de rádio é incapaz de provocar.

Pediu o presidente também que os trabalhadores tenham otimismo e fé com o mercado de trabalho. Reconheceu não ser possível acabar com o desemprego do dia para a noite, mas que a hora é de otimismo. Prove-se isso para o trabalhador desempregado, para quem, mesmo ganhando muito pouco, está tendo de auxiliar na sobrevivência filhos, noras, netos, irmãos, sogra, sogro e outros familiares. Para quem já passou meses e meses, às vezes anos, em busca de um emprego e até já desistiu, depois de encontrar todas as portas fechadas.

Para o trabalhador que ouve Lula no rádio, o apelo por otimismo pode soar como quimera ou mesmo como tentativa de consolo. Ele quer ver a carteira assinada, o salário condigno, o trabalho logo e a família de barriga cheia. Se dados estatísticos mostram que, neste imenso Brasil, lá no interior de Minas, São Paulo ou Tocantins abriram tantas vagas nesta ou naquela indústria, sente que se trata de uma notícia positiva. Positiva para o Brasil, mas não especificamente para ele, cujo problema é próprio, imediato e pode estar longe, no tempo e no espaço, de ser equacionado. O que se teme é que, apesar das boas intenções, o papo de Lula, assim conduzido, seja furado…

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