Iniciava o quarto mês do ano quando uma triste notícia chocava o mundo todo: falecera o papa João Paulo II.
Largas manchetes e inúmeros artigos jornalísticos passaram a lamentar e rememorar o saudoso pontífice, todos enaltecendo sua atuação, mesmo fora do mundo religioso.
Realmente, o ?papa peregrino?, muito querido e admirado, deixou-nos o coração pungente e saudoso.
Muitos aspectos de sua administração apostólica poderiam ser recordados, se o espaço permitisse.
Louvo a oportunidade, porém, como septuagenário, para relembrar a encíclica ?Evangellium Vitae?, na parte demonstrativa do carinho que o estremecido papa dispensava aos idosos, verbis: ?Um lugar especial deve ser reconhecido aos idosos. Enquanto, em algumas culturas, a pessoa de mais idade permanece inserida na família com um papel ativo importante, em outras, ao contrário, quem chegou à velhice é sentido como um peso inútil e fica abandonado a si mesmo: em tal contexto, pode mais facilmente surgir a tentação de recorrer à eutanásia. A marginalização ou mesmo rejeição dos idosos é intolerável. A sua presença na família ou, pelo menos, a estreita solidariedade desta com eles quando, pelo reduzido espaço da habitação ou outros motivos, essa presença não fosse possível, é de importância fundamental para criar um clima de intercâmbio recíproco e de comunicação enriquecedora entre as várias idades da vida.
Por isso, é importante que se conserve, ou se restabeleça, onde isso se perdeu, uma espécie de ?pacto? entre as gerações, de modo que os pais idosos, chegados ao termo da sua caminhada, possam encontrar nos filhos aquele acolhimento e solidariedade que lhes tinham oferecido quando estes estavam desabrochando para a vida: exige-o a obediência ao mandamento divino que ordena honrar o pai e a mãe (cf. Ex 20,12; Lv 19,3). Mas tem mais… O idoso não pode ser considerado apenas objeto de atenção, solidariedade e serviço. Também ele tem um valioso contributo a prestar ao Evangelho da Vida. Graças ao rico patrimônio de experiência adquirido ao longo dos anos, o idoso pode e deve ser transmissor de sabedoria, testemunha da esperança e da caridade.
Agora temos um novo papa: Bento XVI.
A rápida eleição do cardeal Joseph Alois Ratzinger surpreendeu o mundo católico e não-católico.
?Depois de João Paulo II, os cardeais elegeram um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor?, foram suas primeiras palavras.
E, na homilia da celebração religiosa de seu pontificado, declarou: ?O meu verdadeiro plano é não fazer a minha vontade, mas me manter à escuta, junto de toda a igreja, da palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele?.
Grande, pois, a expectativa em torno do seu pontificado, que haverá de ser guiado e iluminado pelas excelsas luzes do Espírito Santo. Por outro lado, inspirado em São Bento, padroeiro da Europa, ?homem amante das coisas concretas e claras?, que ?resumia sua regra num lema eficaz: ora e trabalha? (um santo para cada dia, de Mário Sgarbossa e Luigi Giovannini), Bento XVI enseja admiração, respeito e amor filial de todos nós.
Luís Renato Pedroso é desembargador jubilado e presidente do Centro de Letras do Paraná.