Não houve a menor surpresa quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou o índice de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. Um avanço microscópico de 0,5% em relação aos três meses anteriores, tornando dolorosa e inarredável a perspectiva de crescimento abaixo dos 3% no final do exercício de 2006. Mais um ano para ser esquecido pelos brasileiros.
O presidente Lula estava na Nigéria, quando o IBGE cumpriu a obrigação, e se apressou a revelar aos jornalistas que não pensa mais em 2006. Sua visão está focada no quatriênio que tem pela frente. Mas seus ministros mais importantes – Mantega, Bernardo e Furlan – se esforçaram para reduzir a tremenda frustração trazida pelo engessamento da economia brasileira.
Mantega afirmou que o índice foi decepcionante; Paulo Bernardo usou um termo menos ácido – modesto – na mistura das explicações um tanto debilitadas para transmitir à sociedade uma palavra convincente da parte do governo. Quem teve uma visão mais lúcida foi Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, para quem a tarefa do momento ordena assumir medidas que impeçam a contaminação pelo fracasso do crescimento deste ano, adiado para 2007.
O melancólico ato encenado pelos auxiliares diretos de Lula teria algum sentido se o mercado – deus onipotente do novo Olimpo – não tivesse sinalizado com precisão minuciosa o pífio crescimento, afinal admitido pelo governo. É franciscanamente pobre citar o excessivo conservadorismo do Banco Central na condução da política de juros, principal argumento antecipado pela maioria dos empresários para explicar por que nossa economia tem crescido em escala haitiana.
As reclamações do setor empresarial contra a política de juros elevados são antigas, mas o governo sempre fez ouvidos moucos e somente agiu no sentido de conter o ímpeto altista dos juros quando a vaca já estava atolada no brejal. Ora, que distância separa o gabinete do presidente da República do Banco Central? Que tipo de empecilho contribuiu para atravessar o diálogo dos presidentes da República e do Banco Central? Ou, vale a hipótese que hoje parece a mais aceitável: os homens responsáveis do governo sabiam que não seria outro o resultado, e simplesmente decidiram empurrar com a barriga e dourar a pílula, inclusive alardeando um crescimento de até 5% do PIB.
A versão não está dissociada da realidade, agora escancarada pelos fatos, porquanto o governo ainda esgrime a surrada razão que o crescimento do último trimestre do ano poderá salvar a pátria. Contudo, a prosápia anterior foi substituída por fisionomias marcadas pelo desânimo, diante de um feito tão imponderável quanto a tartaruga vencer a lebre numa corrida de 100 metros livres.
Melhor seria o governo reconhecer suas falhas gritantes na empreitada de fazer a economia crescer dentro de parâmetros modernos, balizados por um conjunto de providências jurídicas, fiscais e de segurança para o investimento produtivo com origem na iniciativa privada. E, na abertura do novo período administrativo, propor à sociedade um pacto de cooperação mútua, sem reservas ou subterfúgios, aliando todas as forças disponíveis na reconstrução pacífica e ordenada do País que todos almejamos.