O que é o óbvio? Segundo os dicionários, o óbvio é tudo aquilo que está evidente, claro, inequívoco. Na teoria, a definição é simples, porém na prática a coisa se torna muito mais complexa. Isso porque nossa maneira de ver a vida nunca é tão direta e simples. Não a vemos apenas com nossos olhos, mas também com as emoções e, dentre essas, o medo figura como o principal formador da condição humana.
Essa insegurança, que todos têm em relação aos fatos da vida, dá origem ao óbvio coletivo, o qual é tido pela maioria como verdade absoluta. Esse óbvio fundamenta a cultura e o pensamento humano. São conceitos sobre pátria, religião, divindade, amor, sexo, felicidade, dentre outros. E assim, seguimos depositando nossas esperanças nas obviedades coletivas.
O óbvio coletivo evoca um sentimento de certeza, o que dá um sensação de conforto ao ser humano na sua eterna busca por segurança. E segurança é o que todos almejamos numa vida tão insegura. Contudo, dessa mesma certeza nascem a ignorância e a intolerância, as quais não nos permitem ver mais de uma obviedade de cada vez, mas apenas o óbvio que se quer ver.
Aliás, se o pensamento humano evoluiu tanto não foi por trilhar os caminhos da certeza, e sim os da dúvida. A dúvida sobre as obviedades coletivas faz nascer novos conceitos, novos horizontes. A isso se dá o nome de crescimento. Não fosse assim, ainda estaríamos uivando dentro das cavernas.
A dúvida, entretanto, é sempre vista com reservas, como sinônimo de insegurança ou mesmo conspiração. Na verdade, é difícil admitir que sabemos muito pouco sobre os mecanismos da vida, por isso nos apegamos a vãs certezas coletivas, justamente para fugir das dúvidas que insistem em nos rondar, recusando-nos a pensar por conta própria. A certeza é, quase sempre, o disfarce mais covarde da dúvida.
Portanto, o verdadeiro óbvio não é o que ninguém vê, mas o que ninguém quer ver. Esse óbvio, embora perceptível e identificável, é prontamente rejeitado porque estamos condicionados a ver apenas o que nos é suportável. É um terreno desconhecido que visitamos solitária e angustiadamente várias vezes durante nossa existência.
Já que as certezas nos aplacam nossa angústia existencial, por que não deixamos vir à tona toda a nossa insegurança? É provável que a nossa verdadeira essência esteja justamente nas dúvidas profundas, e não nas certezas superficiais. A propósito, sempre buscamos nos outros as respostas que estão em nossos próprios corações.
Esse é o primeiro passo para quem deseja ter a verdadeira liberdade, que não é outra senão derrotar os próprios medos.
Djalma Filho é advogado.