O mundo rosa do PT

Diferença brutal. Ao contrário do que acontecia no final de 2002, quando o caos rondava a economia, neste fim de ano os indicadores mostram uma total reversão da tendência: câmbio estabilizado, inflação sob controle, risco-Brasil em queda indicando o aumento da confiança internacional, taxa de juros em queda consistente e gradativa e, principalmente, a clara sinalização quanto à retomada do crescimento…

Assim quer o governo do PT que vejamos o Brasil de hoje, ao se completar o primeiro aniversário da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O tom do discurso já é conhecido (deu-nos o próprio presidente antes do Natal, em cores, na televisão), mas o documento completo e circunstancial está na internet (http://www.brasil.gov.br/balanco/) para quem quiser ler, ver e meditar.

O espírito do relatório oficial é, do começo ao fim, triunfalista. Está longe da simples e objetiva exposição de fatos, como convinha que fosse. É quase propaganda. Além disso, envereda pelo velho e surrado campo das promessas objetivas e subjetivas, com a clara intenção de alimentar a esperança já tênue ou inexistente em muitos setores da sociedade. Tenta convencer o cidadão de que, de fato, o mundo do PT é cor-de-rosa, ao contrário das nuvens negras e borrascas que cruzavam os horizontes de governos anteriores. Marco zero em tudo.

O documento, genericamente, está batizado de “Prestação de Contas do Governo Federal – 2003”, mas assegura em título (o mesmo da revista mandada imprimir às toneladas) que A Mudança já Começou, seguindo-se outros capítulos com o mesmo naipe: Preparando o Crescimento, Reformas Estruturais, Novo Modelo de Desenvolvimento, Cidadania e Inclusão Social, Inserção Soberana, Democracia e Diálogo e, o último, Nova Gestão do Estado e Combate à Corrupção. Neste último, por exemplo afirma-se que 2003 “foi um ano de corrupção zero num governo que (embora o episódio Benedita) não mediu esforços para enfrentar fraudadores, sonegadores e quadrilhas que se formavam dentro e fora do aparelho estatal”.

Tantas vezes referido por Lula em seus discursos, o espetáculo do crescimento ficou, outra vez, para o ano que vem, agora sob a observação de que “as condições macroeconômicas para a consolidação de um ciclo prolongado de desenvolvimento são muito favoráveis”. É que o governo está praticando uma “economia com os pés no chão”, adverte o relatório, logo no início.

“É bravata pura”, exclama o líder do PFL no Senado, José Agripino. O ano que termina foi marcado por lamentáveis perdas, a começar pelo crescimento zero do PIB – Produto Interno Bruto. “Um ano maldito, no qual 650 mil pessoas perderam o emprego, os avanços na educação pararam, os progressos na saúde retrocederam e a burocracia tomou conta de tudo”, completa Agripino. E nós: cadê a fome zero, os 10 milhões de emprego, a segurança nas ruas e no campo?…

Lula, como se recorda, foi eleito sob o símbolo da esperança de milhões de brasileiros que – segundo o documento do próprio governo do PT – “sonham com mudanças definitivas”. Um ano depois da posse, “o País pode exibir com orgulho os sólidos alicerces construídos em ações firmes que levam à garantia de uma estabilização econômica duradoura” – assegura o relatório do Planalto, ao que se vê, sem muito compromisso com a realidade pintada pela oposição.

O tempo haverá de confrontar esse relatório-promessa (do “estabelecimento de rumos claros para combater a miséria e a fome e permitir que os benefícios do crescimento econômico, que agora se inicia, alcancem todos os brasileiros”) com a história que virá. Em qual dos dois brasis vivemos, cada um pode avaliar sem muito esforço.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo