Foi divulgada ontem a inflação no Zimbábue. Nos últimos doze meses, o índice chegou a 2.200.000%. É isto mesmo, mais de dois milhões por cento. Um valor irreal, que não permite sequer uma avaliação aproximada do que está acontecendo por lá. Um dos países mais pobres do planeta, que vive sob forte ameaça de conflitos civis e é governado por um ditador, Robert Mugabe, que conseguiu a proeza de realizar uma eleição em segundo turno com apenas um candidato – no caso, ele mesmo.

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Mugabe é daqueles tiranos de cinema, aqueles ditadores africanos que imaginávamos que não existiam mais. Assassino, torturador e cruel, o ?presidente? do Zimbábue adora ostentar riqueza em um país paupérrimo. A população está na miséria quase absoluta – maior ainda com as restrições internacionais pós-eleição, que foi repleta de fraudes e de ameaças para quem apoiasse a oposição. Para ele, ter ou não ter inflação não faz a menor diferença. Ele dilapida o poder público e as reservas naturais e mantém seu nababesco cotidiano.

Enquanto isto, as moedas e notas nas mãos dos cidadãos do Zimbábue viram poeira. Para tentar explicar o que significa uma inflação tão alta, vamos fazer o exemplo com uma bala, que custa míseros cinco centavos aqui no Brasil. Em um ano com inflação de 2.200.000%, ela chegaria ao preço de R$ 1.100,00. E, claro, não haveria indexação do salário à inflação. O salário mínimo permaneceria no patamar atual, e não daria para comprar uma bala.

O Brasil sofreu muito com a inflação. Aprendemos duramente com as lições de quarenta anos de aumentos sucessivos, até chegar aos estratosféricos 81% de março de 1990, quando José Sarney entregou o cargo de presidente para Fernando Collor de Mello. Era como se os preços dos alimentos, dos combustíveis, das tarifas e dos impostos praticamente dobrassem de um mês para o outro, e o salário ficasse na mesma. Por isso, perder as vantagens da estabilidade econômica não passa pela cabeça de ninguém, principalmente do governo federal. Isto para que notícias como a de Zimbábue fiquem para nós, brasileiros, apenas como extravagâncias de um mundo com inflação.

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