O mínimo em leilão

O eleitor não deve se deixar enganar por essas mirabolantes promessas e terá em mira, sempre, que o mínimo deveria ser algo em torno do que calcula cientificamente o Dieese, hoje de R$ 1.168,92.O eleitor não deve se deixar enganar por essas mirabolantes promessas e terá em mira, sempre, que o mínimo deveria ser algo em torno do que calcula cientificamente o Dieese, hoje de R$ 1.168,92.

O primeiro candidato a presidente da República a usar uma promessa de aumento do salário mínimo para ganhar votos foi Garotinho. Prometeu que, se eleito, em janeiro do ano que vem elevará o mínimo para R$ 280,00. Não explicou como resolverá o problema da Previdência Social. Ela tem um imenso déficit e os benefícios que paga estão atrelados ao mínimo. No orçamento do ano que vem, o governo federal foi pão-duro, propondo recursos para um aumento de apenas R$ 11,00. Seria, então, um mínimo de R$ 211,00, já que o atual é de somente R$ 200,00. Por que tão pouco? Maldade para com os trabalhadores da ativa e aposentados? Certamente não, mas a dificuldade de encontrar recursos para bancar um mínimo maior e a possibilidade de que esse problema seja resolvido pelo Congresso. E tudo isso sem resolver o problema da Previdência, que contingencia o mínimo.

Como Garotinho responsabilizou José Serra pela proposta de aumento de apenas R$ 11,00, o que é pura malandragem de campanha, o candidato chapa branca veio com o troco. Prometeu elevar o mínimo para R$ 300,00, em quatro anos, mais correção das perdas causadas pela inflação. Veja-se que fala em quatro anos e não já, em janeiro. Tempo suficiente para que se tente, afinal, a solução do problema da Previdência que segura o mínimo. Trata-se, pois, de uma meta. Meta de difícil consecução, mas não impossível.

Lula, inteligentemente, nada tem prometido, embora seja o candidato do Partido dos Trabalhadores. Não promete porque não sabe quanto pode prometer ou porque está ciente das dificuldades que terá de enfrentar e ainda não tem para elas adequadas soluções. De qualquer forma, toma uma posição confortável para quem é o candidato que está em primeiro lugar. Se estivesse em segundo ou terceiro, muito provavelmente entraria nesse leilão do mínimo, falando em algum número atraente e que desse votos, oxalá mostrando como pagar a conta.

Agora vem Ciro Gomes, dando lance através de seu candidato a vice, o líder sindical Paulo Pereira da Silva. Paulinho promete um salário mínimo de 100 dólares em quatro anos. Mas que dólar? Em dólares mesmo, repetindo no Brasil a paridade que existiu na Argentina durante tantos anos e onde circularam igualmente o peso e a moeda norte-americana? Ou em reais, convertendo para a moeda nacional US$ 100. Mais provável que a idéia seja esta última. Aliás, já se falou em mínimo de US$ 100, só que quando havia paridade entre o real e a moeda ianque. Mas dólares em que cotação?

Tomemos o comportamento do dólar ontem. Ele chegou perto de R$ 4. Aí, um real valia mais ou menos um quarto de dólar. Os US$ 100 do salário mínimo de Ciro, prometidos por seu vice Paulinho, seriam alguma coisa em torno de R$ 25 reais. A promessa é, no mínimo, ridícula.

Seria o dólar à cotação do dia da decretação do salário mínimo? Se é essa a idéia (se é que tudo não resulta da falta de idéias), a turma da chamada Frente Trabalhista está esquecendo que o dólar é uma moeda conversível e seu valor é flutuante. Num mesmo dia pode variar diversas vezes.

O eleitor não deve se deixar enganar por essas mirabolantes promessas e terá em mira, sempre, que o mínimo deveria ser algo em torno do que calcula cientificamente o Dieese, hoje de R$ 1.168,92. E que merecem confiança aqueles candidatos que estejam fazendo promessas viáveis, mesmo que aquém do mínimo ideal.

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