Em julho do ano passado, Lula, entusiasmado, disse que o Brasil passaria imediatamente a viver o “milagre do desenvolvimento”. De lá para cá, a boa nova foi repetida mais de uma vez pelo governo. Mas, até agora, esse “milagre” não passou de obra de ficção. Milagres tivemos. Um deles, o bom resultado de nossa balança comercial. Aliás, este milagre há muito vinha sendo preparado, inclusive pela equipe da administração anterior. Outro, foi o povo agüentar, ainda esperançoso, o marasmo econômico e o aumento do desemprego sem perder toda a confiança.

Há uns quarenta anos atrás apareceu em Curitiba um milagreiro. Vivia nas ruas da cidade, particularmente na Rua XV de Novembro, uma pobre mulher que não conseguia andar. Chamava a atenção por vestir uma roupa de trapos coloridos. Escandalosamente coloridos. O milagreiro fez algumas mandingas e a mulher passou a andar. O fato espalhou-se pela cidade, pois ela era muito conhecida, figura típica de rua e, afinal de contas, milagres não acontecem todos os dias. A pobre mulher que não andava e vestia-se tão exoticamente, revelando evidentes sinais de demência, passou a exibir seu caminhar como prova do milagre. Mas continuou completamente maluca, o que fez com que alguns céticos imaginassem que sua paralisia era também sinal de demência. Milagre algum houvera, pois a paralisia era um problema mental e não físico.

Não ocorreu o chamado “milagre do desenvolvimento”. Nem na economia, nem nas cabeças dos governantes e governados do Brasil. A coisa continuou preta, a inflação deu seus soluços, a economia permaneceu arrastando-se, às vezes para baixo, e o desemprego continuou crescente.

Dias atrás, as coisas pioraram, com mais inflação, juros parando de cair, dólar subindo e risco-Brasil também. Agora a coisa amainou um pouco e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, veio a público fazer o que melhor tem feito este governo: “marketing”. Admitiu que houve desentendimentos com o ministro todo-poderoso José Dirceu, que vinha pregando mudanças na política econômica. Briga de comadres e tudo vai continuar como dantes no quartel de Abrantes. A política econômica continuará sendo a mesma, como reafirmou Palocci com um argumento respeitável. Não teria sentido mudá-la agora que já foi construída e teve sucesso. Verdade que sucesso que aproveita apenas aos nossos credores, que ficaram com a parte maior das economias que o governo teve de fazer, para sustentar um enorme superávit primário. Maior que o exigido pelo Fundo Monetário Internacional.

As divergências internas do governo não devem abalar a confiança dos investidores estrangeiros na política econômica do País, afirma o ministro da Fazenda. E acrescentou: “Seria injustiça dizer que duas ou três declarações podem contrariar o processo de equilíbrio econômico que está sendo feito no Brasil”. E, mais adiante, afirmou: “Seria um contra-senso, depois de fazer com que os indicadores tenham todos melhorado e aberto a possibilidade de crescimento para o País, o governo falar em mudar a política econômica”. Não devem ser feitas mudanças de rumo, mas sim de graduação. Sobrar um pouco mais de dinheiro para os brasileiros. Um desenvolvimento econômico que não produza milagres, como se vaticinou no passado. Passaríamos a andar, apesar da loucura de milhões de desempregados. Mas o ministro da Fazenda faz uma outra leitura do assunto. Diz ele que “pela primeira vez na última década, nós não fizemos um ajuste não repassando os custos à sociedade”. O povão que o diga!

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