O menino de Poços

Esse Luís Nassif é um danado! De segunda-feira a sábado, assina uma coluna econômica na Folha de S. Paulo e enfrenta os humores do mercado no programa “Dinheiro Vivo” da TV Gazeta paulista. É tido como o mais lúcido e influente comentarista econômico da imprensa brasileira na atualidade. Aos domingos, vira cronista do cotidiano e um memorialista de mão-cheia. Troca os números, gráficos, papéis e os segredos do mundo (ou seria submundo?) financeiro pela narrativa de fatos que povoaram a sua infância e adolescência na sempre presente Poços de Caldas.

Sim, porque Luís Nassif, além de jornalista talentoso, ágil e muito bem informado; de escriba competente, de dono de um estilo fluente e cativante, de músico de primeira, chorão e exímio bandolinista, e de um extraordinário contador de histórias, é, ainda por cima, poços-caldense. Chega a ser covardia. E, como se não bastasse, acaba de oferecer ao distinto público O Menino do São Benedito e Outras Crônicas (lançamento da Editora Senac, à disposição dos interessados nas boas casas do ramo), uma obra de fôlego (452 páginas) e de fino conteúdo. Ali, o ativo Nassif reúne alguns momentos do mais puro bom-gosto, de inteligência e sensibilidade; de deliciosos flagrantes da vida real do interior, entre as montanhas das Minas Gerais; do tempo em que a música popular brasileira era música e letra da melhor qualidade.

“É uma prosa cheia de vivacidade e precisão, devidamente temperada com as pimentas que dão sabor” – como bem define Antônio Cândido, que assina o prefácio.

Luís Nassif passeia faceiro pela história musical do Brasil. Vai à fonte e recupera do esquecimento gênios como o maestro Pedro de Sá Pereira, de Chuá, Chuá; Valdir Azevedo, de Brasileirinho; Garoto, de Dinorá; Zé do Norte, de Lua Bonita; Joubert de Carvalho, de Maringá; Inesita Barroso, da Marvada Pinga; Sidnei Miller, de Pois é, Pra quê; Vandré, de Disparada; Caymmi, de Dora e do Boi da Cara Preta; Cascatinha e Inhana, de Índia e Meu Primeiro Amor; Biá e Bolinha, de Boneca Cobiçada; Nhô Piá, de Beijinho Doce; Hekel Tavares e Joraci Camargo, de Guacira; Luís Peixoto, de Ai, Ioiô; Arlindo Pinto, de Chalana; Assis Valente, de Cai, Cai, Balão; Francisco Ribeiro, de Chico Mineiro; Filadelfo Nunes, de Esmeralda; Alberto Cavalcanti, de Leva eu, Sodade; Zé Kéti, de Máscara Negra; Luiz Vieira, de Menino Passarinho; Sérgio Bittencourt, de Modinha; e o parnanguara Paulo Gurgel Valente do Amaral Soledade, de Estão Voltando as Flores, sem esquecer, é claro, de Noel, Chico, Vinícius, Tom, João Gilberto, Elisete, Maísa, Juca, Elis, Gil, Caetano, Gal, Edu, Milton, Ivan e por aí afora.

Mas a grande personagem de Luís Nassif é mesmo a sua (nossa?) Poços de Caldas, cidade de encantos mil, que Cleonice e eu conhecemos nos anos 60. Foi amor à primeira vista, que já dura 40 anos, pois, como escreve o Antônio Cândido, é nas pequenas cidades “que aprendemos a sentir de perto o vizinho, o pobre, o rico, o roceiro, o safado, o honesto, o desinteressado, o aproveitador, porque todos estão ao alcance do olhar e da informação, no ombro a ombro de cada dia”. E a pequena Poços, que de 30 a 50, acolheu a fina flor da gente brasileira – do presidente da República a alguns dos mais representativos nomes da política, arte e cultura brasileiras – é o exemplo vivo disso.

Nassif, seu bandido!, de leitor virei seu fã.

Célio Heitor Guimarães

é jornalista, advogado e fã de Luís Nassif.

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