O mea culpa de Lula

Em seu próprio nome e em nome do governo, Lula pediu desculpas à nação. Sobre o caixa 2, a corrupção ao seu redor, no PT e no governo, sobre o mensalão e tudo o mais que enlameia a política do País, o presidente, em reunião realizada com o ministério, nada acrescentou. Disse que de nada participou e nada sabia. Que foi traído e que, fundador do PT, sentia-se frustrado pelos descaminhos da agremiação. Disse tudo isso logo depois de Valdemar Costa Neto, presidente do PL que renunciou para não ser cassado, declarar a uma revista nacional que o seu partido cobrou e recebeu em dinheiro parte do que lhe foi prometido para dar apoio a Lula e ao PT. E recebeu em longas prestações, de difícil cobrança. Que Lula disso sabia, pois participou do encontro, na casa de um deputado, em que o ?negócio? foi acertado sob o comando de José Dirceu.

O discurso de Lula sucedeu-se, também, às bombásticas revelações de seu marqueteiro político Duda Mendonça, feitas na comissão que investiga as negociatas político-eleitorais. Duda revelou que recebeu dinheiro do caixa 2, dentro do esquema do ?publicitário? Marcos Valério, em que a origem do dinheiro escuso ainda é uma incógnita. E que, para receber, teve de abrir, a conselho de Valério, uma empresa fantasma num paraíso fiscal caribenho. Ficou a dúvida sobre se dinheiro de outras origens não engrossam essa ou outras contas no exterior.

Nos últimos dias e nas últimas horas a crise agravou-se sobremaneira. Já não se fala em impeachment em segredo ou entrelinhas, mas claramente, a maioria, inclusive dos oposicionistas, rezando para que a crise não desemboque nesse desfecho perigoso. Isso porque, se Lula foi eleito com dinheiro irregularmente aportado e sonegado nas declarações à Justiça Eleitoral, seu vice, José Alencar, chegou ao poder com o mesmo vício insanável. E se ambos perderem os mandatos, assume o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti. Assume por apenas trinta dias, pouco tempo, mas suficiente para nomear o resto da família, os vizinhos e seu eleitorado, além de cometer outras sandices de que é useiro e vezeiro. Os substitutos de Lula e Alencar, para completar o mandato, seriam eleitos indiretamente pelo Congresso Nacional. E o mais forte candidato à Presidência da República é o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Nelson Jobim.

Lula teve o ponto positivo de penitenciar-se. Embora negando que soubesse do que ao seu redor estava acontecendo, do que muitos duvidam, repetiu a promessa de que, no que couber ao Executivo, tudo fará para que os culpados sejam apontados e punidos. E reconheceu que o mesmo já está sendo feito pelo Congresso e pelo Judiciário, paralelamente à Polícia Federal e ao Ministério Público.

Insistiu para que a crise política não influa no andamento da economia, que considera ir muito bem. Isso é bom. Foi um discurso curto tanto na quantidade de palavras quanto em soluções para a crise. Apenas recomendou uma reforma eleitoral. Não revelou nomes e fatos. Nada acrescentou, a não ser admitir que o povo merece um pedido de desculpas. E que, pelo menos politicamente, seu governo foi mal. E, agora, vai de mal a pior.

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