O literato de resultados

O exercício da política, conforme está suficientemente provado, é uma atividade apropriada aos profissionais do ramo. Acima de tudo, aos poucos que podem oferecer como garantia real do apoio uma expressiva soma de votos de parlamentares submissos, hoje em dia a moeda mais cobiçada por eventuais chefes de executivo, qualquer que seja a sua coloração ideológica.

O comentário é pertinente ao se perceber a picardia com que o senador José Sarney (PMDB-AP), encaminhou a questão das nomeações dos dirigentes do sistema elétrico, de modo especial na empresa líder do setor, a Eletrobrás, cuja presidência será ocupada por um de seus inúmeros apadrinhados.

Há várias semanas os jornais especulam sobre os nomes mais prováveis, sem deixar de conceder amplo espaço à guerra de bastidores travada entre o senador e a ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff, em busca da oportunidade de emplacar seu preferido na alta direção da estatal.

O problema principal da ministra, apesar de seu imenso prestígio junto ao presidente Lula, na realidade, conquistado pela firmeza e esmero com que desempenha as funções de gerente da máquina administrativa, é que ela não dispõe de uma bancada pessoal no Congresso, prerrogativa atualmente usufruída única e exclusivamente pelo senador nascido no Maranhão, mas representante do Amapá. Em troca das nomeações, os votos da bancada do PMDB, que se apropria sem cerimônia das preferências pessoais de Sarney, com as raras exceções de praxe, vão todos para o governo.

Gastou-se algum tempo, apenas o necessário, na tentativa de dissolver a aparência de desentendimento entre figuras insignes da heterogênea composição governista e, ainda, para que a mídia mostrasse à exaustão o desabrido apetite por nomeações, afinal, como todos os brasileiros sabem, o distintivo mais visível dos encarquilhados pajés do PMDB velho de guerra. Como nas outras vezes, ao fim e ao cabo, os louros foram novamente depositados aos pés da estátua viva maranhense.

Um de seus indicados, não o primeiro porquanto a lista é infindável, vai presidir a Eletrobrás, cabendo a escolha ao ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, figura de proa da nau clã sarneyzista. Aliás, a extraordinária liberalidade foi-lhe concedida diretamente pelo presidente Lula, em olímpica demonstração de fadiga com certas futricas, na maior parte das vezes desagradáveis e cansativas, que povoam a agenda de um chefe de governo. Plenamente realizado, Sarney vai pedir licença do Senado para se dedicar à literatura.

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