O homem público

Quando se fala ou se ouve algo a respeito do cidadão tido e havido como homem público, logo vem à mente aquele que zela pela coisa pública, defende a causa pública, enfim, aquele que busca a satisfação de um interesse coletivo.

Em nosso País, o homem público é aquele cidadão-político, eleito pelo voto popular, para representar a sociedade e atender às suas expectativas.

Entretanto, não somos capazes de identificar a figura do homem público além daquele que recebe nosso voto.

Ele está em cada um de nós. O cidadão, e não o político, é o agente primário de transformação e de solução de nossas expectativas.

Não devemos delegar ao político aquilo que nós mesmos podemos e devemos fazer. Muitas de nossas expectativas são comunitárias, vale dizer, estão próximas e fazem parte de nosso cotidiano. Quero me referir ao seu bairro, ao seu local de trabalho, aos lugares que você freqüenta.

O homem público cada um de nós pode e deve romper com o marasmo, a omissão e não refugiar-se no chavão de que ?os políticos nada fazem?. Antes deles, nós, cidadãos, pouco fazemos.

O homem público, um ser desconhecido e escondido em cada um de nós, tem o dever de zelar pelo que é público, pela praça pública, pelo monumento público, pela rua, pelos sinaleiros, pela água, pelo lixo produzido.

Não me refiro a soluções que passem por grande projetos, mas, sim, ao cotidiano, onde cada cidadão pode contribuir não sujando, não destruindo e respeitando o que é de todos.

Nosso mandato para defesa da causa pública não tem início e não tem fim. Não há eleição porque já fomos eleitos. Não há remuneração porque é um direito-dever do cidadão. Não precisamos de receita. Não precisamos de empregados. Não precisamos de planos e discursos.

É uma batalha inglória? A resposta é sim para os medíocres que desejam atribuir culpa exclusiva aos políticos e que só dão valor àquilo que serve a si próprio e que se encontra em seus próprios domínios. A resposta é não para aqueles que acreditam que a atitude é a peça milagrosa de todo o processo.

Mas não sejamos ingênuos. Todos sabemos que historicamente a conquista de qualquer direito foi e sempre terá um caminho árduo. Não há direito conquistado sem luta.

Por isso, tenha atitude.

Use as leis. Reclame. Vá à Câmara Municipal, à Prefeitura e dê a sua opinião. Ligue para os telefones de serviços públicos e deixe sua mensagem. Anote o protocolo para que possa repetir sua mensagem tantas vezes quantas necessárias. Peça uma audiência com o vereador, com o deputado, com o senador, com o governador ou com seus auxiliares. Não desista se ouvir justificativas de que não pode ser atendido porque, afinal, às vésperas de eleições, aquela mesma autoridade já o visitou ou pode querer visitá-lo em sua própria casa ou em seu local de trabalho. Envie mensagens para as mídias impressa e eletrônica. Valorize a honestidade, a solidariedade, a integridade e a ética. Aja como um cidadão comprometido com a melhoria de seu bairro, de sua cidade e de nosso País. Faça seu protesto pacífico e civilizado. Dê conselhos cívicos aos mais jovens. Saiba quais são os compromissos públicos assumidos pelos políticos e cobre seu atendimento. Exija Nota Fiscal. Não compre produtos falsificados. Abomine a sonegação. Exija do governo maior responsabilidade no uso das receitas públicas. Denuncie a corrupção. Dê ouvidos à nossa história e ao exemplo de outros países. Ouça a voz dos mais experientes. Valorize o bom e dê a ele a merecida divulgação.

E o que eu ganho com isto, perguntam muitos. Ganha, e muito. Voce ganha, eu ganho, todos ganhamos. O País ganha. E se nenhum deles ganhar, certamente seu filho ou seu neto ganhará um País melhor.

Paulo Afonso da Motta Ribeiro é advogado em Curitiba.

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