Uma canção interpretada, no passado, por Gilberto Gil, hoje ministro da Cultura do Brasil, dizia que “o Haiti é aqui”. Hoje, mais de mil soldados brasileiros estão no Haiti, ajudando a restabelecer a ordem naquele país caribenho. São partícipes de uma missão de paz da ONU criada após a derrubada do presidente eleito Bertrand Aristide, exilado na África do Sul. Aristide é acusado de fraude eleitoral e corrupção. Defende-se, dizendo ter sido derrubado com o auxílio dos Estados Unidos à oposição haitiana. O Brasil não é só partícipe da missão de paz da ONU. Exerce a honrosa missão de chefiá-la, tendo sob o comando de altas patentes do Exército brasileiro contingentes militares de outros países.
O Haiti é um país infeliz. Viveu décadas sob ferrenhas ditaduras do sanguinário Papa Doc e de seu filho e sucessor. Os ditadores não promoveram o desenvolvimento do país. Calcula-se que nada menos de 98% da população está desempregada e na miséria absoluta. O país partilha, com a República Dominicana, a ilha Hispaniola. Mesmo que se reconheça que a República Dominicana é também um país pobre, mostra uma diferença abismal em comparação com o vizinho Haiti. O Haiti não é pobre, mas miserável, e os brasileiros, bem recebidos pela população local, muito podem ajudar no restabelecimento da ordem e no oferecimento de assistência técnica para que alguma coisa de sua economia e administração se organize e desenvolva.
Dias atrás, um avião saiu do Brasil rumo a Porto Príncipe, capital haitiana. Levava autoridades do nosso país, capitaneadas pelo ministro da Defesa, para o reconhecimento do que nossas tropas lá estão fazendo e como expressão de apoio moral ao seu trabalho. O governo Lula vê com bons olhos e até deseja missões como essa cometida a brasileiros no Haiti, pois aspira prestígio que lhe valha, no futuro, um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. E Lula procura se firmar como um líder do terceiro mundo, como já fez, no passado, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser.
A nossa televisão mostrou: o Haiti que os militares brasileiros estão tentando ajudar é de uma miséria lancinante. Pobreza que não nos é desconhecida, pois a temos no mesmo nível, se bem que em menor extensão. Aqui, há populações tão pobres quanto as haitianas. Só que em número menor, se bem que representem mais de 30% da população. O comando brasileiro das forças da ONU no Haiti, que tem entre outras missões a essencial de promover o desarmamento do povo e de grupos insurretos e de criminosos, falando à imprensa deu uma lição. Disse que o desarmamento dos haitianos e o fim da violência só se dará de fato quando for promovido o desenvolvimento econômico e social daquele país. Quando os haitianos tiverem empregos, alguma renda, assistência e vislumbrem um futuro mais promissor. A violência, a desordem e a criminalidade que grassam no Haiti são iguais à que temos aqui no Brasil. E as soluções são as mesmas.
Ficou demonstrado que no seio das nossas Forças Armadas há plena consciência de como se combate a violência. O único remédio é o fim da miséria e o desenvolvimento econômico e social. Missão que não dispensa o trabalho de um governo civil competente.