Algum tempo atrás, creio que em meados de 2000, concluí aqui neste espaço que a nossa briosa Polícia Militar funciona no horário comercial (“Socorro, o guarda sumiu!”). Isto é, nas ruas, dá expediente de funcionário público. E isso porque, via de regra, basta o sol se pôr no horizonte para que os bravos vigilantes fardados saiam de cena, e fiquemos todos nas mãos da bandidagem -a não ser que tenhamos a sorte grande de cruzar com uma viatura de frota policial motorizada.
Escrevi, também, que a coisa piora desesperadamente nos dias de chuva. Justo quando o trânsito enlouquece e a cidade vira um caos, cadê o guarda? Não se enxerga unzinho, nem mesmo abrigado debaixo de uma protetora marquise.
O tenente-coronel Jorge Luiz Rodrigues, da PM, não gostou da queixa. Em carta a este jornal, lamentou a opinião do colunista e acentuou que “tentar menosprezar, ironizar, achincalhar com a nossa Polícia Militar é desserviço ao próprio povo, pois cria no cidadão a desconfiança com seu único órgão protetor e dá ao marginal a sensação de oportunidade de agir e impunidade pelo mau serviço público”. E concluiu convidando-me a fazer uma visita àquela “sesquicentenária instituição” para “ver como atuamos”.
Senti-me, então, na obrigação de esclarecer ao ilustre militar que o texto não procurara “menosprezar”, “ironizar” nem “achincalhar” a PM. Até porque eu simplesmente, apesar de todos os meus vários defeitos, não sou louco nem burro o suficiente para tanto. Também não seria capaz de tamanha injustiça. Eu apenas constatara um fato real, evidente e desgraçadamente rotineiro. Quanto ao convite para visitar “qualquer um dos quartéis da PM”, embora honrado, respeitosamente recusei, porquanto o meu interesse – como, de resto, de todo cidadão – era ver a polícia em ação e ser protegido por ela aqui fora, nas ruas, praças e jardins da cidade.
Dois anos se passaram. Hoje, além das polícias Civil, Militar e Federal, temos à nossa disposição a Guarda Municipal, a Guarda Florestal, os agentes da Diretran, as meninas do EstaR, as lombadas eletrônicas e toda uma parafernália eletromecânica vigiando os nossos movimentos e aplicando-nos toda sorte de penalidade. Mas cadê o guarda?
O velho surto de exibicionismo continua também. Ainda outro dia, assistimos ao desfile de novos e reluzentes veículos cinza-amarelados, em comboio pelas ruas da capital, devidamente equipados, iluminados e com as sirenes acionadas. Um presente do nosso diligente governador à população eleitora. Foi bonito de se ver. Mas cadê o guarda?
Quinta-feira passada, cerca de 18, 18h30. A chuva, que caíra o dia todo, engrossa e atormenta motoristas e transeuntes. Automóveis e ônibus congestionam as ruas centrais. Cândido de Abreu, Barão do Cerro Azul, Augusto Stellfeld, Visconde de Nácar, Saldanha Marinho, Fernando Moreira, Carlos de Carvalho, Vicente Machado. Os apressadinhos avançam o sinal vermelho, atravancam os cruzamentos. Um semáforo está apagado na Desembargador Motta, logo no cruzamento com a Padre Anchieta. O caos se instala. E cadê o guarda? Não se encontra um só. Nem para remédio.
Quer dizer: o tempo passa, o tempo voa e tudo continua numa boa. As autoridades fingem oferecer ordem e segurança, a população é obrigada a fazer de conta que se sente organizada e segura e que Deus nos proteja!
Célio Heitor Guimarães
continua sendo um cidadão curitibano nas mãos do Criador.