Foi o pensador francês Jean-Paul Sartre que pôs na boca de um de seus personagens a frase: “Sou livre! Não tenho nenhuma razão para viver”.
Parece nebuloso, mas é verdadeiro quando a gente pensa que só pode ser livre quem aceita a falência de seus sonhos e até desiste da sobrevivência, pois nada mais pode fazer, nada mais quer e não tem pela frente nenhum desafio que ouse encarar. Enquanto se tem algum desafio, se têm razões para viver. Quando nos convencemos de que nada é possível, o fim parece um destino inevitável.
Transportemos esse pensamento para o Brasil e aceitemos que, embora a sua liberdade orne os discursos, principalmente dos políticos, na verdade não somos livres. Dependemos de tecnologia estrangeira, de poupanças de outros povos e de uma luta insana para competir no mercado internacional. A medida da alienação aceitável está nos resultados positivos que consigamos alcançar para o nosso próprio povo nesse relacionamento com outros países.
Desespera, por isso, quando vemos as previsões bem fundamentadas de um Center for Economic and Policy Research (Centro para Pesquisa Econômica e Política), instituição séria e independente com sede em Washington, que nos mostra que iniciamos, no ano 2000, mais uma década perdida. Quando vemos que, neste ano, depois de uma mudança de governo que deveria ser uma nova experiência política e econômica, atendendo esperanças da maioria dos brasileiros, estamos encolhendo ao invés de crescer, como mostram os resultados negativos do Produto Interno Bruto do País e como confirmam o desemprego e as desesperanças das classes trabalhadoras e empresariais, ficamos diante da indagação: como sair dessa sem aceitar que não temos mais razões para lutar?
O referido estudo critica o crescimento tentado com empréstimos externos, juros elevados, salários reduzidos, financiamentos internos escassos e um esforço inaudito para rolar os papagaios pendurados mundo afora. O superávit primário, neste ano, está por volta de 5% do PIB, que no ano é negativo e no último trimestre cresceu minúsculos 0,4%.
Seriamos um país sem solução?
Tudo indica que o único caminho é procurarmos meios para andar pelas próprias pernas. Indica, também, que é exatamente o contrário o que está sendo feito. O atual governo parece convencido que uma política fiscal que retire da população o máximo é o remédio. Assim quer que aconteça com os tributos em geral, promovendo uma reforma que aumentará a carga de impostos. Reluta em atualizar as isenções do Imposto de Renda, embora seja evidente a perda de ganhos dos trabalhadores. Insiste em transformar em definitiva a CPMF, prorrogar por tempo indeterminado a alíquota máxima e que deveria ser provisória do IR e há quem, como técnicos da Receita Federal, fale em penalizar a classe média para, hipoteticamente, beneficiar a classe de menor renda.
Os juros baixam lentamente e ainda são os mais altos do mundo.
Como andar pelas próprias pernas com este quadro de decisões? Recordemo-nos que os EUA saíram da grande recessão dando trabalho remunerado às massas de desempregados convocadas para grandes obras públicas. Que para reativar a economia que estava, agora, entrando em recessão, baixou os juros a 1% ao ano e reduziu impostos. Resultado: houve um crescimento econômico de mais de 6%. Um país anda pelas próprias pernas se o seu governo não as amputa. E o nosso, sejam as melhores as suas intenções, o que tem feito é amputar as pernas das forças produtivas do Brasil.