O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) deu-nos uma boa notícia há poucos dias. Baixou os juros básicos da economia em 2,5 pontos, o que não deixa o preço do dinheiro do tamanho ideal, mas bastante menor do que se esperava. Está em 22% ao ano, quando já esteve a 26%. Nos Estados Unidos e na Europa é de apenas 1% ao ano. Não estamos nem perto dos juros básicos ideais, mas um pouco menos longe das desastrosas taxas que vinham sendo praticadas, com o objetivo de combater a inflação. Já aparecem as informações de que o comitê elevou as projeções de reajuste dos preços por contratos e monitorados, como o da gasolina, da energia elétrica e do gás de cozinha. A impressão é que os juros baixaram, mas podem voltar a subir. E os preços também.
Para o preço do botijão de gás estão prevendo um aumento de 5,6% para todo o ano, contra 2,3% projetados anteriormente. As tarifas de energia elétrica residencial devem sofrer reajustes, neste resto de 2003, de 22,3%. Previam-se 21%. As novas estimativas de aumento das tarifas públicas elevam a inflação projetada, para o conjunto dos preços administrados, de 13,1% para 14%.
As previsões de inflação dos preços administrados tinham caído de 9,6% para 8,7%. Para não nos perdermos nessa sopa de números, quase sempre indigesta, é bom dizer ao leitor que existem preços livres de mercado, preços administrados por contrato e monitorados. Tabelamentos e congelamentos, como se tentou no passado, não mais existem, porque foram um grande fracasso. Não dá para decretar que alguma coisa custe um real quando custa dois. A diferença alguém terá de pagar. Uma coisa é preço e outra é custo. Tudo tem o seu custo e custo zero é bobagem. Custo abaixo do preço é prejuízo e só pode ser praticado por motivos ponderáveis, ordem das autoridades e com subsídios. Alguém tem de pagar, e sempre quem acaba pagando é o povo, através de tributos. Nas economias de preços livres, os produtores e comerciantes não cobram quanto bem entendem. Cobram o que o mercado pode, quer e aceita pagar. E há a concorrência. Se alguém cobra o absurdo, sempre haverá um concorrente oferecendo a mercadoria ou o serviço mais barato.
Preços administrados por contrato são, por exemplo, dos de energia elétrica. As empresas privadas produtoras e distribuidoras acertaram preços e reajustes com o governo. E como eram de seu interesse, assinaram os contratos. Não dá para alterá-los unilateralmente, pois uma ou outra parte quebra. Preços administrados são aqueles que o governo controla, mesmo que de bens e serviços produzidos e distribuídos por particulares. Aí, não funciona a concorrência e sim a vontade da autoridade.
Já não vivemos mais num governo de economia estatizada. Mas ainda é muito grande a interferência do poder público na formação de preços. Diríamos que ela é tão grande ou até maior que a do mercado. Assim, se depois da queda dos juros ditada pelo Copom, vem mais ou menos inflação, que não se culpe o dono do supermercado, da fábrica ou do armazém da esquina. Vivemos num sistema misto, em que a maioria dos preços que sobem sofre direta ou indireta intervenção do poder público. E ainda embutem vários impostos.