O governo do PT

O que investidores, banqueiros, empresários e alguns administradores do alto escalão estão querendo que Luiz Inácio Lula da Silva, o presidenciável do PT lhes responda? O que pretende fazer se for eleito com relação a contratos, estabilidade, inflação, câmbio, juros, Banco Central?

Esses instigantes indagadores estão querendo passar por ingênuos ou querem se iludidos como foram as vítimas do “maníaco do parque”, em São Paulo?

A cúpula do PT que já abandonou a pureza de sua fundação em prol do sucesso nas eleições com alianças que qualificava de espúrias, “recomendará” a Lula que diga aos indagadores o que eles querem ouvir. Ele terá depois a boa desculpa de que foi pressionado ou coagido pelas forças terríveis do capitalismo e por isso suas respostas não têm valor. Não é uma boa justificativa para negar sua palavra amanhã?

Ora, os intelectuais do PT almejam chegar ao poder para estabelecer um governo “democrático popular”. Note-se bem: “popular”. Isso está dito e repetido em suas declarações. Esse “popular”, que qualifica algumas “democracias” ou repúblicas, identifica-se por uma ideologia que, no aspecto econômico, se contrapõe ao mercado, à propriedade particular dos meios de produção. Adota o dirigismo estatal. A liberdade – ah, a liberdade! – é “democrática popular”. A educação é “democrática popular”. Os direitos, tudo se subordina ao “popular” da ideologia.

Assim, eleito Luiz Inácio Lula da Silva, seu partido iria tentar implantar o novo regime. Começando por uma distribuição de cargos entre os partidários capazes da missão e dos partidos das alianças, em pagamento do apoio, porque os credos são diferentes. Depois seguiria pela tentativa de formar uma base parlamentar com mais distribuição de cargos e outras práticas que condenava na oposição. Não conseguindo a base parlamentar para obter os instrumentos de mudança do regime, iria apelar para o populismo. O “povo” na rua. Enquanto isso, iria inventando e experimentando suas milagrosas medidas para resolver o problema da dívida pública, do emprego, dos salários esperados, dos preços, da inflação, da reforma agrária, da saúde, da educação, da criminalidade, etc.

E o País à matroca, como vai a Venezuela.

O PT que surgiu como partido inovador com uma ética política que o fazia respeitável e admirado e ia, aos poucos, formando seus quadros e amadurecendo no exercício parlamentar e na administração de algumas unidades da federação, vai mudando para um partido da “realpolitik”. Para chegar ao poder vale tudo. As vozes que, dentro da agremiação, ainda permanecem fiéis aos princípios institucionais e protestam contra as alianças nefastas vão sendo sufocadas com o falso dilema que o presidenciável repete como argumento para fazer as alianças contestadas: ou fazer as alianças ou permanecer como aspirante eterno ao poder. Conspurca-se.

Que jovens românticos e rebeldes se manifestem favoráveis à eleição de Lula é compreensível. Faz parte de seu processo evolutivo e de seu sonho. Que funcionários públicos estejam descontentes com a falta de reajuste salarial é também compreensível. Que os aposentados do INSS, com mais razão ainda, estejam insatisfeitos é compreensível. Mas daí, sem levar em conta a complexidade de nossas estruturas e as dificuldades de lidar com elas, atribuir ao atual governo a causa do descontentamento e insatisfação e, em razão disso, ajudar a estabelecer no País um regime “democrático popular” seria mesmo um ato de inconsciência.

Precisaríamos dessa experiência para aprender na carne o que é uma “democracia popular”?

J. Ribamar G. Ferreira

é professor aposentado da UFPR e advogado.

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