O governo acha que se afastasse o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, daria mão à palmatória. Admitiria, em outras palavras, que o capitão do time está envolvido com as irregularidades cometidas por seu “traidor” amigo e ex-braço-direito Waldomiro Diniz. Cairia, assim, em desgraça, exatamente num ano eleitoral. Isto é o que o governo acha. E por assim achar, sai em defesa de Dirceu, dizendo – como Lula disse – que “o caso Waldomiro é um caso de polícia”. Sim, “mandei investigar e fim”. Isto é, conforme Lula, o caso para ele está encerrado e deve ficar circunscrito à esfera policial.

Que é também caso de polícia, não temos dúvidas. Mas não é só. É, também, um caso de política. E, mais que isso, um importante e relevante caso que precisa ser investigado até o mais amargo fim, exatamente para que num ano eleitoral não pairem dúvidas sobre a honorabilidade de homens situados no mais alto degrau do poder. Assim pensam os homens de oposição. Assim pensam ex-integrantes do PT, como a senadora Heloísa Helena, que está anunciando colocar toda a sua experiência a serviço da luta pelo impedimento do “enterro” da CPI dos bingos no âmbito do Senado Federal. Assim pensam contribuintes e cidadãos de bem dessa República.

Que diria o PT e todos os seus se, ainda na oposição, estivessem diante dessa escabrosa história que pode ir bem além de um simples caso de corrupção envolvendo um graduado funcionário? Não resta a menor sombra de dúvida que bateria o pé e, com todas as forças, exigiria investigação de tudo quanto estivesse perto (e muito mais as chefias) do indigitado Waldomiro. Uma fruta podre estraga as que se encontram no mesmo pacote.

As informações iniciais davam conta de que o “amigo” de Dirceu agira no já distante ano de 2002, isto é, antes de o PT assumir o poder, cravando seu “marco zero” no Planalto. Com o argumento de que os fatos antecederam a posse, o governo de Lula (e isso foi pronunciado pelo próprio ministro José Dirceu, na condição de portador da mensagem presidencial na solenidade de abertura do ano legislativo) teceu a tese que sugeria que aqueles eram fatos que pertenciam a governo anterior. Mesmo que sobrassem indícios ou possibilidades de a atuação de Waldomiro ter favorecido o partido com sua tarefa de arrecadação de fundos para campanha eleitoral, a nação teve que engolir o discurso.

Veio o Carnaval e, apesar dele e da cortina de fumaça com a medida provisória decretando o fechamento dos bingos e caça-níqueis, outras informações vieram à tona. Não apenas existe a suspeita, mas fortes evidências de que Waldomiro continuou agindo na mesma área e com os mesmos interlocutores (gente do jogo do bicho, dos bingos e órgãos do governo, como a Caixa Econômica Federal, que também mexe com jogos e aparelhos de jogar) já na era Lula, quando ocupava aquele importante cargo de assessor parlamentar na Casa Civil de José Dirceu, o traído. Mesmo e apesar disso, na primeira reunião pós-carnavalesca, o governo avaliou os fatos e, sob sua onipotente ótica, achou que a crise, se não está superada, está de bom tamanho para ser enterrada por uma agenda positiva que inclua o velho discurso da necessária geração de empregos, desenvolvimento, etc.

Que venha a agenda positiva. Mas que não fiquemos nesse achismo condenado pelo próprio Lula quando disse que não se pode mais ficar afirmando “eu acho”, mas é preciso passar para a fase do “eu faço”. Ora, fazer significa também afastar esse temor diante da possibilidade de investigar que mais suspeitas que certezas gera. E nós gostaríamos de ter a certeza de que o ministro José Dirceu – assim como os demais do governo Lula – é, de fato, um homem com as qualidades apregoadas.

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