O golpe da emigração

Um grupo de onze catarinenses está perambulando pela Europa, sem casa nem comida, dormindo nas estações de trem e pedindo esmolas. Sua situação de desespero foi revelada pelos seus parentes no Brasil e agora os aventureiros estão sendo aconselhados a procurar as nossas embaixadas, pois não podem contar com as autoridades européias, pois são clandestinos. A Polícia Federal abriu inquérito em Joinville e já descobriu que os jovens foram aliciados por um curitibano de identidade ainda não revelada. A Interpol, por sua vez, procura localizar um comparsa do vigarista, que iludiu os onze com promessas de ganhos da ordem de três mil reais por mês, e que mora em Londres. Enquanto isso, a polícia brasileira estoura em Governador Valadares, Minas Gerais, uma fábrica de passaportes falsos para emigração ilegal para os Estados Unidos. Aquela cidade mineira é campeã nesse tráfico de pessoas para a América do Norte.

Na Comunidade Econômica Européia, ministros do Interior reuniram-se para discutir um estudo feito em conjunto pela Itália, Espanha, Bélgica, Alemanha e França, que cogita da criação de uma polícia comum de fronteiras, para impedir a imigração ilegal. Nos Estados Unidos, as autoridades apertam e não têm sido poucos os brasileiros e outros estrangeiros que passam por constrangimentos e são expulsos ao chegarem àquele país. De parte dos norte-americanos, o endurecimento é em razão do medo da entrada de terroristas. Na Europa, a fobia por imigrantes resulta do xenofobismo de direita, da escassez de empregos, do desejo de não partilhar com alienígenas os benefícios da recém-criada Comunidade Econômica Européia. Também porque há um extraordinário fluxo de fugitivos de conflitos e da pobreza do terceiro mundo e do extinto bloco soviético.

É, entretanto, um equívoco pensar que a aventura de emigrar de forma ilegal tem boas chances de sucesso. É uma temeridade, não só porque eles não querem receber imigrantes, tanto mais se ilegais. Sair de um país menos desenvolvido para viver num país desenvolvido é condenar-se a ser um cidadão de terceira categoria. Isso, se for aceito.

No mais, são muitas as barreiras a ser enfrentadas. Para começar, a língua estrangeira, em geral desconhecida pelos que emigram. Além disso, sofre-se um tremendo choque cultural de difícil digestão. As sociedades recipientes, já organizadas, reservam aos imigrantes os trabalhos piores e menos remunerados, muitos patrões aproveitando-se do fato de que, como ilegais, os imigrantes não poderão reclamar. Existe ainda o risco de se cair num golpe, como aconteceu com os catarinenses referidos, que gastaram de dez a doze mil reais para pagar o vigarista que os tapeou com promessas de emprego inexistentes e vistos que foram negados. O sonho de emigrar, vivendo-se num país com tantas dificuldades como o Brasil e tão distante do mundo desenvolvido, praticamente todo situado no Hemisfério Norte, é natural. Mas é preciso esclarecer os que assim sonham sobre os pesadelos que poderão vir a sofrer e os golpes de que poderão ser vítimas.

De certa feita, um pequeno hoteleiro parisiense disse a um jornalista deste jornal: “Eu não entendo por que vocês sonham tanto em vir morar na Europa. Aqui tudo já está pronto e ocupado. Oportunidades existem é lá, no Brasil, onde sobram terras e quase tudo está por fazer. Eu sonho em um dia ir para o Brasil”.

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