A previsível saída dos deputados “radicais” João Batista Araújo (PA), Luciana Genro (RS) e João Fontes (SE) do PT terá duas implicações, uma no plano intra e outra no plano extrapartidário. Internamente, o Partido dos Trabalhadores estará sofrendo um processo de divisão interna pela segunda vez em nove anos, desde que uma ala dissidente decidiu fundar o PSTU, em 1994, por considerar que a legenda já não era uma alternativa estratégica para a construção do projeto revolucionário defendido pelo grupo para o País.

Esse processo, a essa altura inevitável, dada a insistência dos deputados em votar contra o projeto de reforma da Previdência Social enviado pelo Palácio do Planalto ao Congresso Nacional, culminará na provável criação de um novo partido. Mas uma legenda com perfil ideologicamente diverso do PT dos dias de hoje.

O partido que deverá surgir como resultado desse processo terá inspiração igualmente socialista, mas deverá diferir do PT por não possuir um perfil tão fortemente identificado com a orientação de centro-esquerda que domina a legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que faz do PT uma sigla social-democrata. Tampouco a nova legenda estará identificada com os antigos PCs que se inspiraram no regime castrista (vigente em Cuba) e nem nas antigas ditaduras fortemente burocratizadas do Leste Europeu.

O novo partido deverá ter uma orientação ainda predominantemente socialista, só que mais coesa e radical que o PT, na verdade, muito mais próximo do PSTU que do Partido dos Trabalhadores, só que diferente na sua composição.

No plano externo, a criação do novo partido significará uma peça nova na nova configuração política do País. O novo partido e o PSTU serão as duas legendas geograficamente situadas no perfil de esquerda que começa a se desenhar no Brasil. Não que o novo partido venha a ter um perfil massivo como o PT que foi fundado em 1979.

Mas, certamente, a nova legenda significará um rompimento do paradigma, incorporado por toda a esquerda e a intelectualidade brasileira, de vermos o PT como a principal força política de oposição nacional. Agora no governo, uma tendência que deve se consolidar cada vez mais, o PT passará a ser muito mais um formulador e executor de políticas públicas que um partido de enfrentamento à ordem dominante.

Seja lá qual for o resultado dessa mudança, é certo que ela trará avanços para a política brasileira. Depois da passagem pelo PT no governo, espera-se que não haja mais espaço para a repetição de práticas odiosas como as executadas por forças políticas sem nenhuma identificação com as massas, já que o Partido dos Trabalhadores reúne todas as condições políticas para promover alterações substanciais nas condições de vida da população.

Por outro lado, as críticas duras que o PT deverá receber da nova oposição nacional de esquerda darão uma nova vitalidade ao cenário político, tornando o debate mais intenso. Bom para o PT, bom para o País.

Aurélio Munhoz (politica@parana-online.com.br) é editor-adjunto de Política de O Estado e mestrando em Sociologia Política pela UFPR.

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