A Operação Navalha é do desagrado do governo. O presidente Lula não pode dizer que é contra, pois isso comprometeria de vez seu conceito perante a opinião pública, mas são evidentes suas preocupações com o fato de a ação cortante da Polícia Federal estar atingindo autoridades e políticos de todos os partidos, mas principalmente das chamadas bases governistas. E quando são membros do Poder Executivo, a coisa fica ainda mais feia. Já caíram um ministro e autoridades de menor escalão, mas também importantes, o que evidencia que há denúncias com fundadas suspeitas de participação de governistas como facilitadores da corrupção ou praticantes da corrupção passiva.

continua após a publicidade

Temerosos de que em suposta lista de dezenas de novas autoridades e parlamentares, apreendida pela PF, existiriam nomes ladeados de valores ou identificação de presentes, o que poderia engrossar o número de corruptos desmascarados, situacionistas foram se queixar ao presidente Lula contra a Polícia Federal. A PF estaria deixando vazar informações sigilosas. Dela queixou-se até um ministro do Supremo Tribunal Federal, cujo nome foi confundido com o de um quase homônimo, este sim envolvido nas maracutaias.

O sigilo é legal e necessário, mas o fato de ter sido quebrado não é argumento suficiente para tornar suspeita a Operação Navalha. Lula, ouvindo a reclamação, reagiu dizendo que mandaria investigar se houve um comportamento abusivo dos policiais federais. Mas logo emendou com frases de apoio à ação da PF e do Ministério Público, voltando a repetir frase que costuma dizer sempre que gente sua é pega com a boca na botija. Diz que é preciso ir até o fim, ?doa a quem doer?. E no governo já está doendo, senão teria sido fácil a constituição da CPI conjunta da Câmara e do Senado, providência que só está assegurada, por enquanto, na parte referente ao Senado. Os situacionistas são contra a investigação parlamentar. E não seriam de forma tão clara, tivesse o presidente da República apoiado a nova medida investigatória.

Agora a coisa piorou mais ainda para as forças situacionistas, pois surge uma acusação grave contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB e aliado de Lula. Ele estaria sendo beneficiado com dinheiro de uma empreiteira. Um funcionário dessa empreiteira seria, há anos, o pagador de uma pensão para uma filha natural de Calheiros com uma jornalista. E também do aluguel do apartamento que ela ocupa. A Comissão de Ética do Senado já se movimenta para apreciar o novo escândalo.

continua após a publicidade

A posição do presidente, falando em punir quem quer que seja, ?doa a quem doer?, deve-se em muito ao ministro da Justiça, Tarso Genro. Ele, que foi no primeiro mandato petista ministro das Cidades e já foi prefeito de Porto Alegre, representa os quadros alijados do PT na formação do condomínio em que se tornou o governo do segundo mandato de Lula. Quando dos escândalos do primeiro mandato, exigiu a renúncia da cúpula petista, a punição dos culpados e uma completa renovação do partido. Sempre tomou posição a favor da punição dos governistas que agem contra a lei e a ética. E agora, como ministro da Justiça, tem a Polícia Federal sob seu comando e a tem apoiado, apesar da grita contra o fio da navalha que está cortando na carne gente de partidos da oposição, mas principalmente situacionistas. E tirando fatias do governo.

Tarso Genro, embora seja um petista histórico, mantendo-se em sua posição moralizadora, cada dia mais parece um estranho no ninho. Ou a maçã boa num saco de maçãs podres.

continua após a publicidade