Nas regiões mais pobres da Terra, sempre surgiram profetas do fim do mundo. Adivinhos, falsos religiosos ou mesmo pessoas crentes em suas catastróficas predições, não poucos enriqueceram à custa da fé dos ingênuos e chegaram a montar igrejas sobre o medo das hecatombes que anunciavam como destino do planeta. No Brasil, esses arautos da desgraça não são poucos e sempre houve os que ingenuamente fazem sua predição à beira das estradas poeirentas, falando a ingênuos migrantes, aos quais sempre sobrou fé e faltou água. Para os ricos, nunca houve o medo dessas desgraças, muito menos de falta d´água. Para os ricos dos países mais poderosos, essa preocupação de abstinência forçada e exatamente de água nunca foi motivo de preocupações. Tudo isso até que começaram a aparecer sinais de que Deus e a mãe natureza não estão contentes e anunciam mudanças grandes, graves e para já.
Houve um tsunami na Ásia matando milhares de pessoas e destruindo milhões de casas. A gente nem sabia o que era tsunami. Depois disso, mudanças climáticas foram ocorrendo, causando fenômenos traumáticos em todas as regiões.
As secas se ampliaram e atingiram novas áreas. Áreas de seca foram inundadas. Marés engoliram praias e vilarejos de pescadores; as estações encurtaram ou se prolongaram, sempre apresentando condições de clima nunca antes experimentados. Mais calor onde poderia estar simplesmente quente ou o frio se prolongando no inverno. Estações chegando cedo demais ou muito tarde. E o aquecimento global, um mal nada desconhecido, mas não reconhecido como iminente pelas nações mais ricas, de repente fez com que governantes insensatos, como George W. Bush, que comanda o país mais poderoso do mundo, tenha pensado que talvez os Estados Unidos tenham errado ao negar-se a assinar o Protocolo de Kyoto, com medidas para diminuir a poluição da atmosfera. A União Européia pôs seus cientistas em campo, estudando o que estava acontecendo, e o mesmo fez a ONU. Descobriram que o mundo está acabando e, se continuar assim, sem providências imediatas e drásticas dos governantes e suas populações, vai acabar muito antes do que predicavam os ingênuos e os profetas malandros.
Depois de uma semana de reuniões em Bruxelas, Bélgica, os mais de quatrocentos cientistas que participaram da segunda parte de um relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) chegaram à conclusão de que mais de 1 bilhão de pessoas poderão sofrer com a falta d?água em um futuro próximo e que as populações mais pobres do mundo serão as mais afetadas pelo aquecimento global. A causa principal será o derretimento precoce da camada de gelo de grandes cadeias de montanhas, como os Andes e o Himalaia, em razão do aumento da temperatura. Para os cientistas, já começou o derretimento acelerado das neves que abastecem de água grande parte da Terra.
Haverá também derretimento do gelo dos pólos, com inundações nas regiões costeiras e baixas, acabando com praias, cidades e até pequenos países localizados em ilhas de baixa altitude. De tudo isso não resultará ?que o sertão vai virar mar e o mar virará sertão?, mas que imensas florestas, como a amazônica, poderão transformar-se em cerrado, em semidesertos. E então teremos migrações de milhões de vítimas das secas, das enchentes e de outros fenômenos naturais. Em um caos desses, sofrerão mais os pobres e menos os ricos, mas ninguém ficará livre das desgraças. Ou são tomadas providências de urgência urgentíssima e já ou, como os dinossauros, seremos os novos senhores extintos da Terra, que continuará por aqui, quem sabe ainda redonda, mas com uma fauna diferente a dominá-la: quem sabe de insetos.