O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, telefonou de Washington para o deputado petista Aloízio Mercadante, convidando-o para um encontro nos próximos dias. É fácil concluir qual será o assunto do encontro. Armínio quer colocar o parlamentar e economista do PT a par dos contatos que manteve na Europa e Estados Unidos, visando melhorar a imagem do Brasil diante do mercado financeiro. Imagem que precisa melhorar, seja quem for o eleito no próximo pleito, mas em particular se este for Luiz Inácio Lula da Silva. Lula é, para o mercado, a maior incógnita e motivo de desconfianças que o governo FHC tem afirmado serem infundadas. E o próprio Lula procura desmanchar essa imagem, ao declarar em carta ao povo brasileiro que se compromete, se eleito, a manter o superávit primário nos 3,75% atuais, a cumprir os compromissos assumidos pelo atual governo, o câmbio flutuante e as metas de inflação.
O encontro poderá ser de adversários, mas não de inimigos, pois Mercadante e seu correligionário, deputado mineiro Paulo Delgado, têm mantido permanente diálogo com o presidente do BC. Aliás, deste fato é que teria resultado a decisão de Lula de procurar tranqüilizar o mercado, declarando publicamente que cumprirá os compromissos assumidos pelo atual governo, inclusive e em especial os contratos firmados. O discurso de Fraga no exterior tem sido de que, seja quem for o eleito, Lula, Serra, Ciro ou Garotinho, o mercado pode confiar, pois são todos homens de responsabilidade e que entendem o que são compromissos do Brasil e o que são promessas político-partidárias.
Desde que Lula divulgou sua carta-compromisso, esperava-se que o mercado se acalmasse e cessassem as turbulências que vêm prejudicando a vida financeira e econômica do nosso País. Tal não aconteceu, ou aconteceu em medida insuficiente. Já o périplo de Fraga, conversando na Europa e Estados Unidos com banqueiros, analistas, autoridades e dirigentes de organismos financeiros multilaterais, parece ter obtido melhores efeitos. A tempestade continua, mas com interregnos de bonança.
O fato de Armínio Fraga ter convidado apenas um petista faz pensar, desde logo, que o governo acredita na possibilidade de vitória de Lula, descartando um resultado das urnas que signifique a eleição de Ciro ou Garotinho. Ou, pelo menos, que o governo entende que estes dois últimos, com ou sem promessas públicas, não romperiam os compromissos brasileiros com outros países e o mercado financeiro. O encontro servirá para que o presidente do Banco Central faça um relato dos contatos que fez no Exterior e o ambiente que encontrou em relação ao Brasil. Poderá servir, também, para que sugira alguma coisa mais, de parte de Lula e do PT, para tranqüilizar de uma vez por todas o mercado.
Certo que o melhor seria um encontro que unisse representantes de todos os candidatos e dele saíssem reafirmações de compromissos, pois o País pode e quer um novo presidente. Mas não tem condições de suportar, por muito tempo, a tempestade. O encontro de Fraga com Mercadante foi aprovado por Lula. Este disse que considera positivo o diálogo. Até chegou a dar um exemplo, para mostrar quão positivo é dialogar. Lembrou que sem diálogo, não se teria conseguido acabar com a II Guerra Mundial. Entende-se o que quis dizer, embora a história mostre que o exemplo não é muito apropriado. A II Guerra Mundial não acabou via diálogo e, sim, através de rendição incondicional do Japão, Itália e Alemanha, os países do eixo.