O estadista Getúlio Vargas

Assumindo corajosamente a responsabilidade de chefiar a vitoriosa revolução cívica e popular de 1930, Vargas chegou ao poder quando a economia do País estava destroçada, sofrendo os efeitos da crise mundial de 1929, desencadeada pelo crash da Bolsa de Valores norte-americana, cujos efeitos perduraram até 1933.

Neste início de século 21, a queda no preço de ações na Bolsa de Valores de Nova York já causou enormes e irrecuperáveis prejuízos a milhões de acionistas. Grandes empresas faliaram e outras tantas fraudaram balanços para mostrar lucros fictícios. Será que 1929 não está se repetindo? Será que o próximo presidente, a ser eleito em 6 de outubro/02, repetirá a visão global e terá o punho firme e a concepção estratégica e nacionalista de Vargas? Tomara que sim, porque o Brasil precisa mais que nunca de um estadista no poder.

A partir de 1930, Vargas decretou a moratória da dívida externa, restabeleceu o equilíbrio das finanças públicas mesmo incluídos os juros, enfrentou as oligarquias econômicas, eliminou as práticas de corrupção vigentes na República Velha, iniciou o processo de organização racional do serviço público e criou o Dasp, que introduziu os concursos públicos para admissão de pessoal, o treinamento de servidores e a modernização da máquina administrativa.

Contrastando com o descrédito de grande número dos atuais políticos brasileiros, agiganta-se a indubitável honestidade de Getúlio Vargas, que exerceu a Presidência da República por quase 19 anos (1930 a 1945 e 1951 a agosto/1954). O inventário de Vargas na Comarca de São Borja, RS, revelou que seus bens eram os mesmos do início de sua carreira, herdados de seus pais, acrescidos de um apartamento no Rio de Janeiro, adquirido com financiamento da Caixa Econômica Federal.

A revista O Cruzeiro, dos Diários Associados, crítica feroz de Vargas, que na década de 50 teve grande prestígio e enorme circulação, publicou reportagem de cinco páginas na edição de 19 de abril de 1958, quase quatro anos após o suicídio, comentando a partilha e proclamando a honradez de Vargas. Getúlio deixou quatro filhos, todos já falecidos: o médico Lutero (ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro), o engenheiro-agrônomo Manoel (ex-vice-prefeito de Porto Alegre), a advogada Alzira (secretária de Vargas na Presidência) e Jandira (dona de casa). Nenhum deles ficou rico, nem seus filhos e netos. Os quatro irmãos de Getúlio (Viriato, Protásio, Espártaco e Benjamim) não fizeram fortuna.

Na vida de Getúlio Vargas não existe conversa de caixas de campanha, de arrecadadores de fundos, de depósitos na Suíça, nas Ilhas Cayman ou em outros paraísos fiscais. Nem ele, nem seus parentes se locupletaram. A irrefutável probidade de Getúlio Vargas e a consagração de sua vida ao povo e à pátria, culminando com o derramamento do próprio sangue, compõem uma auréola de herói nacional.

Quanto maior o tempo decorrido da trágica manhã de 24 de agosto de 1954, mais avulta o reconhecimento ao gigantismo da obra de Getúlio Vargas, agente principal da transformação do Brasil, pobre e predominantemente agrícola antes de 1930 em uma nação industrial, com reais perspectivas de tornar-se membro do clube dos países ricos, nas primeiras décadas do século 21, se mudar a atual rota do neoliberalismo e da submissão a interesses alienígenas.

Talvez sua mais importante realização tenha sido a consolidação da unidade nacional, que sofria riscos por divergências, conflitos e tentativas separacionistas, que vinham desde o império. Alguns Estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul mantinham polícias militares com poder de fogo capaz de enfrentar o Exército nacional. Ele enquadrou as polícias estaduais nas suas funções específicas, reaparelhou e fortaleceu o Exército e a Marinha e criou o Ministério da Aeronáutica.

Vargas cedeu bases aéreas para os Estados Unidos no Nordeste e o Brasil participou ao lado dos “aliados” da 2.ª Guerra Mundial. Antes de declarar estado de beligerância, Getúlio com habilidade e diplomacia obteve ajuda dos Estados Unidos, através do presidente Franklin Delano Roosevelt, à Cia. Vale do Rio Doce (principal exportador internacional de minério de ferro) e para a construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, marcos da nossa emancipação econômica. Fernando Henrique privatizou a preço vil a “Vale” e a Corus, uma ex-estatal inglesa, está incorporando a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que poderá ser compelida a estancar sua produção de aço e fornecer minério de ferro barato para as usinas britânicas.

Com a criação da Petrobras (e a proposta da Eletrobras), da Fábrica Nacional de Motores, do BNDE, do Banco do Nordeste, da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil (Creai), e o incentivo às atividades produtivas na indústria e na agricultura, Getúlio Vargas colocou o Brasil na trilha do desenvolvimento econômico.

Está na hora de retomar-se a “Era Vargas”, que FHC anunciou mas não conseguiu extingüir.

Léo de Almeida Neves

, suplente de senador pelo Paraná e ex-deputado federal. Exerceu a diretoria da Creai do Banco do Brasil.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo