O espetáculo era outro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu para breve – ainda no decorrer deste mês de julho – o início do que teatralmente chamou de “o espetáculo do crescimento”. Disse-o solenemente e diante das câmeras, para que todo o Brasil visse e ouvisse sua promessa que, como em suas andanças durante a campanha, realimenta a esperança. O Brasil inteiro, que até aqui só viu crescer a fila do desemprego, torce para que o milagre aconteça. Antes que seja tarde.

Na platéia, entretanto, a mais nova promessa não empolgou. Nem arrancou os aplausos imaginados. O presidente da poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Horácio Lafer Piva, por exemplo, entende que o discurso é dúbio e o espetáculo está ainda longe de começar. Não acontecerá em julho, nem no decorrer do segundo semestre inteiro. O País, segundo ele desconfia, tem que enfrentar muitos empecilhos para poder dar partida aos motores do crescimento. Um dos problemas é, ainda, a alta taxa de juros que continua a ser criticada abertamente pelo vice-presidente e também empresário José Alencar.

Sem o ceticismo de Piva, mas com um pouco de mais prudência que Lula em seus já conhecidos discursos de improviso, o ministro Guido Mantega, do Planejamento, concorda em parte com a possibilidade do “espetáculo” tardar: “O momento exato é difícil de dizer. É no segundo semestre. Agora, julho, agosto, setembro… não sei dizer” – acrescenta ele, já enigmático como uma pitonisa. O mesmo enigma, aliás, que envolve as negociações para as reformas da Previdência e tributária -esta última já com os governadores pendurando esperanças na partilha de uma CPMF que tem a promessa de baixar o peso da cascata para 0,08%… De duas uma: ou quase nada sobrará para eles ou, o que é mais provável, a alíquota não baixará nunca.

Se o principal espetáculo a que foram convidados os brasileiros tarda muito mais que o imaginado, entram em cena outros entretenimentos. Um deles – e talvez o principal de todos – é este recrudescer das ações coordenadas pelo Movimento dos Sem-Terra -MST. Sem se intimidar pelas ameaças e pela pressão da opinião pública, seus líderes continuam a desafiar os poderes, as leis em vigor e ultrapassam outra vez todos os limites do bom-senso. Já ordenam o saque de caminhões carregados de alimentos e, não contentes, como se fossem bandidos comuns, batem a carteira de motoristas indefesos. “Isso é um recado para Lula”, disse uma militante-saqueadora.

Desse espetáculo não programado nem anunciado oficialmente entra também o presidente Lula, cujo partido inicia o processo de expulsão de seus descontentes e dissidentes, alegando descumprimento de normas internas, que recebe em audiência especial antigos “companheiros de luta” que desafiam abertamente a ordem constituída e passam por cima da própria Constituição. É preciso que o presidente saiba que, na platéia, nós não estamos nem aí para os problemas deontológicos de seu partido, detestamos as contradições do gênero e queremos outras coisas. Esperamos por ações contra a especulação, pela criação de empregos, pelo aquecimento da economia e outras capazes de gerar o clima de felicidade e auto-estima prometidos em campanha. Promessa é dívida. Se o presidente não é capaz de entender por si, que veja os números de sua popularidade, já em queda livre.

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