Não há quem negue a importância da infra-estrutura e do espaço físico na produção de serviços educacionais de qualidade. Salas de aula, quadras esportivas, áreas de recreação, laboratórios, bibliotecas, sem esquecer dos aspectos estéticos e visuais, afinal beleza é fundamental. Tudo isso contribui de forma significativa com a qualidade na formação dos alunos, qualquer que seja o nível educacional e a faixa etária deles.

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Na avaliação feita por pais e alunos no processo de escolha de uma escola, bem-estar, segurança, acesso à tecnologia, entre outros, são atributos cada vez mais procurados e com um peso maior na hora da decisão. O problema que quero levantar aqui é por que a valorização excessiva desses aspectos é prejudicial ao processo educacional em si, e por conseqüência, ao processo de criação de valor para os consumidores e clientes.

Por mais estranho que possa parecer a alguns dos meus leitores, recorro a Karl Marx para tratar essa questão. Ao discutir a natureza da mercadoria em O Capital, o autor mostra como as relações entre as pessoas acabam se transferindo para as relações entre objetos, pois parte significativa das relações humanas se dá por meio da troca de objetos.

Na sociedade capitalista esse fenômeno assume formas particulares. Como nesse caso, de forma predominante, quem produz uma mercadoria não é proprietário dela, e como o meio de troca passa a ser o dinheiro, as relações sociais assumem a forma de relação entre coisas. Vem daí o predomínio em nossa sociedade da valorização do que se tem, ou que se parece ter, em relação ao que se é verdadeiramente.

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Como relacionar essa discussão com educação, marketing e valorização dos aspectos físicos de uma escola? Vamos a uma situação concreta.

É comum ouvirmos de professores e pedagogos que os alunos de hoje são apáticos e desinteressados no que se refere aos estudos. Mas será que esse quadro é tão novo assim? Eu me lembro do meu comportamento em sala durante as aulas de matemática e literatura. As diferenças eram significativas: atenção e interesse total para literatura; dispersão e apatia nas aulas de matemática. Era na aula de matemática que eu ?viajava?, muitas vezes embalado pela própria literatura.

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Em essência, hoje ocorre o mesmo. A diferença é que hoje essa apatia e dispersão acabam sendo direcionadas para fora, para os objetos. Para o celular, por exemplo. Isso pode levar a um empobrecimento emocional e intelectual, tendo em vista que o desconforto causado pelo desinteresse em uma aula acaba não sendo enfrentado e superado, mas falsamente resolvido pelo entretenimento proporcionado pelo envio e recebimento de mensagens.

Boa parte das escolas reforça esse problema ao valorizar excessivamente os aspectos físicos e materiais, como forma de amenizar o desconforto proveniente da atividade de estudar e que é intrínseco a ela, tendo em vista que requer esforço e trabalho.

Esse é um problema de marketing, pois desloca o foco do valor daquilo que se produz, tornando a escola cada vez mais refém dos investimentos em infra-estrutura e instalações físicas, como forma de garantir a percepção de valor do serviço educacional que oferece. Como o principal resultado da educação deve ser um valor interno ao indivíduo, fruto das transformações que ocorrem no seu modo de pensar, sentir e intervir no mundo, valorizar esses processos internos, em última instância, é valorizar o serviço educacional que se oferece.

Caro leitor, antes que você me ache louco, quero ressaltar que instalações físicas, equipamentos e infra-estrutura são elementos fundamentais para a realização de serviços educacionais de qualidade e são elementos importantes para melhorar a percepção de valor que as pessoas têm da nossa escola. Mas não podemos reforçar a inversão de valores característica da sociedade atual, onde as relações humanas são esvaziadas pela supervalorização dos aspectos materiais da vida.

Será que esses desafios são possíveis de serem superados? Tenho convicção que sim, e trago um exemplo de como fazer.

Em artigo publicado na Folha de S. Paulo (9/7/2006), Gilberto Dimenstein relata a experiência da rede de ensino municipal de Nova Iguaçu, uma das regiões mais pobres e violentas da Baixada Fluminense, e mostra que instalações físicas são um meio para a educação de qualidade, e que seu uso só melhora a qualidade geral se usado de forma adequada e se não for visto como um fim em si mesmo.

Sem recursos para construir escolas como os CEUS de São Paulo ou os CIEPs do Rio de Janeiro, a Prefeitura precisou investir na criatividade. Surgiu o conceito de ?bairros educativos?, que consiste na ocupação dos espaços próximos às escolas, que passaram a ser utilizados antes, durante e depois das aulas. Igrejas, clubes, academias, praças, entidades não governamentais passaram a fazer parte de trilhas organizadas e monitoradas por professores, que, incorporados ao trabalho pedagógico, enriqueceram as aulas e fortaleceram o vínculo entre conhecimento e experiência prática. Tudo isso a um custo de R$ 12 mensais por aluno.

Diversas secretarias municipais se envolveram no projeto, pois os espaços da cidade tiveram que ser adequados. Camelôs e comerciantes precisaram abrir espaços nas ruas. Muros e fachadas foram pintados e a sinalização foi renovada para indicar os roteiros a serem seguidos. Enfim, a valorização dos aspectos materiais e externos foi direcionada para a rede de relações sociais na qual a escola e a educação estão inseridas e para a experiência interna do aluno, pois valorizou sua relação com o bairro e a cidade onde mora.

Como ressalta Dimenstein, a experiência é nova e seus resultados ainda não podem ser consistentemente mensurados. Mas com certeza é um belo exemplo de marketing educacional em sentido amplo.