O que hoje acontece no Iraque comprova que a livre determinação dos povos ainda é o melhor caminho. O governo dos EUA sustenta o insustentável. O seu direito de intervir em outros países para impor a democracia nos moldes em que a entendem e na forma que lhes convém. A doutrina Bush não é mais do que um novo imperialismo não só político, mas também econômico.
Invadido e destruído, o Iraque, rico em petróleo e que vivia há mais de duas décadas sob cruel ditadura de Saddam Hussein, ficou provado que os motivos alegados por Bush eram falsos. Não havia armas de destruição em massa nem ficou provada a associação do Iraque com o terrorismo muçulmano que atacou a grande nação americana, no fatídico 11 de setembro. Faltaram os motivos, mas eles não eram mais que falsa justificativa para a invasão que denuncia um novo tipo de imperialismo. Bush é o novo xerife e os Estados Unidos assumem, por conta própria, o papel de defensor mundial da democracia.
Finalmente e porque estava perdendo essa guerra de dominação, os EUA decidiram patrocinar eleições ditas livres no Iraque ocupado. Confirmariam suas intenções democráticas.
Esqueceram-se, entretanto, de estudar melhor o quadro que se apresenta no Iraque, seu passado remoto e recente e a impossibilidade de implantar ou sequer sonhar com uma democracia à moda ocidental naquele país do Oriente Médio. O Iraque é dividido em dois partidos, que são dois ramos do islamismo. Os sunitas e os xiitas, estes majoritários e aqueles no comando, sob a direção de Saddam Hussein. Ainda os curdos, uma nação sem pátria. Durante a longa ditadura de Hussein, os curdos foram duramente castigados com lutas de extermínio levadas a cabo por Hussein e os seus sunitas. Os xiitas, embora majoritários, também estiveram submetidos à ditadura cruel e corrupta do sunita Saddam.
Com as eleições, é evidente que os majoritários xiitas passam a deter a maior parte do poder. E os Estados Unidos, embora tenham anunciado a retirada de suas tropas, lá devem permanecer por tempo indefinido, para manter seus interesses petrolíferos, evitar a implantação de um governo fundamentalista e, o quanto possível, estabelecer uma paz precária entre xiitas e sunitas. É possível? Claro que não, em se considerando que são ramos inimigos de uma mesma religião. Há um forte movimento por um governo fundamentalista e unanimidade na rejeição da presença de tropas estrangeiras no país. Mais do que isso, há verdadeira ojeriza em relação aos Estados Unidos, olhados como os invasores impiedosos que meteram o nariz, as mãos, as baionetas e suas bombas onde não foram chamados.