O discurso de Bush

O discurso anual sobre o Estado da União, pronunciado por Bush no Congresso norte-americano, teve importância mundial. Isso porque o atual presidente republicano tem se revelado, principalmente em política internacional, um tresloucado e temerário ditador, afirmando e reafirmando um direito que não se sustenta: o de os Estados Unidos bancarem os patrões do mundo, líderes à força, impondo regras, condições e tirando ou pondo governantes no poder, em outros países. Mesmo considerando-se o terrível atentado do World Trade Center sofrido pelos Estados Unidos e o fato de Saddam Hussein ser um sanguinário ditador no Iraque, não há como validar os direitos a que os EUA sob Bush se arrogam. Isso não evitará a guerra absurda contra o Iraque, pois existem interesses econômicos e um complexo de superioridade que divide o mundo em países do eixo do mal e o líder do bem. Bush elegeu o seu país líder do bem.

A parte do discurso de Bush que tratou das políticas internas contrasta com a insanidade da parte sobre política internacional. Os Estados Unidos não estão em recessão, mas mostram um nível de desenvolvimento diminuto, incapaz de resolver o crescente desemprego. O governo vem reduzindo as taxas de juros para permitir maior consumo, como forma de impulsionar o desenvolvimento econômico. O contrário do que se faz no Brasil, onde as taxas sobem como foguete, se bem que com outra escusa: seria para conter a inflação. Outra providência anunciada por Bush é a redução substancial do imposto de renda.

“Empregos são criados quando a economia cresce; a economia cresce quando os americanos têm mais dinheiro para gastar e investir, e a melhor maneira, e a mais justa de assegurar que os americanos tenham esse dinheiro é, em primeiro lugar, não tributá-lo de nenhuma forma” – ensinou Bush. O contrário das políticas adotadas no Brasil, onde a idéia é manter o congelamento da tabela do imposto de renda, mesmo tendo havido inflação, provocando assim a redução do poder aquisitivo dos trabalhadores. E ainda a notícia de que, se não se fizer uma reforma tributária considerada pelo governo adequada, a CPMF poderá ser prorrogada mais uma vez.

A visão norte-americana é que o desemprego se combate com o desenvolvimento econômico e este só pode ser conseguido com mais dinheiro nas mãos dos cidadãos e empresas para gastar e investir. Em conseqüência do desenvolvimento, aumentará a arrecadação tributária. Ela não será aumentada com a manutenção de alíquotas mais elevadas, política que se está praticando no Brasil, sempre com outras escusas. Não há como comparar Estados Unidos e Brasil, em termos de economia, mas não podemos esquecer que, em diferentes medidas, temos alguns problemas e aspectos em comum. Somos dois países quase do mesmo tamanho e recentes estudos (deles) demonstraram que poderíamos até superá-los em produção agrícola. Não temos a mesma expressão industrial, nem no setor de serviços. Somos, ainda, um país muito endividado e, eles, aplicadores de capitais.

Os dois países, entretanto, enfrentam o problema do desemprego crescente, do baixo nível de desenvolvimento e problemas sociais cruciais, os nossos evidentemente muito maiores. As diferenças e semelhanças não justificam políticas de juros e tributária tão opostas.

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