O direito de cassar

Uma novela interminável, O direito de cassar, cujo enredo foi escrito e está sendo interpretado pelo deputado federal José Janene (PP-PR) e coadjuvantes do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados está nos últimos capítulos, e como nunca continua a espicaçar as emoções dos expectadores pelo ineditismo dos recursos dramáticos que o autor tira da cartola, como um redivivo Alberto Limonta, saudoso personagem do folhetim cubano O direito de nascer, que magnetizou nossas avós ou mães há mais de meio século.

Janene é um dos acusados de receber dinheiro do valerioduto, segundo as contas do mecenas Marcos Valério uns R$ 4,1 milhões, sacados do Banco Rural pelo chefe de gabinete João Cláudio Genu. O deputado é o único ainda não julgado pelo conselho, tendo em vista o diagnóstico médico sobre grave cardiopatia que o impediu, até esse momento, de apresentar sua defesa para evitar os riscos duma síncope.

Na última reunião, à qual Janene também não compareceu, a novela ganhou um pedaço a mais com o pedido de vistas formulado pelo deputado Ildeu Araújo (PP-SP), sob a alegação que nenhuma testemunha foi ouvida, assim como o principal interessado. Araújo, colega de bancada do acusado, não teve pejo em disfarçar o matreiro absenteísmo de Janene, a cada convocação para defender-se perante o Conselho de Ética. O inusitado ficou por conta da nova data marcada para a votação: terça-feira, dia da estréia do Brasil na Copa do Mundo.

O presidente do conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP) confessou que todos os componentes assumiram o compromisso de estar em Brasília na manhã daquele dia a fim de cumprir a obrigação, na verdade, postergada pelo arsenal de habilidades utilizado pelo acusado desde a época em que a relatoria do processo estava a cargo da saltitante deputada Ângela Guadagnin.

Quanto aos polpudos saques feitos pelo assessor, a explicação é que o dinheiro foi usado para pagar os advogados de defesa do deputado Ronivon Santiago (PP-RO) numa pendenga jurídica qualquer. Contudo, investigações provaram que a grana foi mesmo usada para comprar votos da bancada pepista. A nota curiosa é que o mesmo Ronivon é um dos principais indiciados da Operação Sanguessuga, em que a Polícia Federal apurou a vampirização de R$ 110 milhões do Tesouro na compra superfaturada de ambulâncias para prefeituras municipais.

Sem dúvida, cenografia perfeita para o fecho duma novela lacrimosa, enjoativa e, acima de tudo, emburrecedora.

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