O dia da caça

Hoje é o grande dia, leitor/eleitor! Não se lamente por estar sendo obrigado a sair de casa, deixar o convívio da família, amargar uma eventual fila, enfrentar aquela estranha geringonça chamada urna eletrônica e, ainda por cima, padecer diante da brutal falta de opções. Tudo isso faz parte. Depois, veja o lado bom da coisa.

Hoje, está todo mundo nas suas mãos, eleitor! Os bandidos, os mocinhos, os bem-intencionados, os safados… Todos muito humildezinhos. Aproveite esse momento único!

Se você ainda não votou, tome o rumo da sua seção eleitoral. Mas antes medite. É agora ou só daqui há quatro anos. Lembre-se daqueles que tanto prometeram e nada cumpriram; daqueles que apenas se valeram do cargo público para tirar proveito próprio ou beneficiar parentes e amigos; daqueles que aumentaram as respectivas contas bancárias, aqui e acolá; dos que usaram e abusaram do poder econômico, dos que perturbaram o seu sossego e emporcalharam a cidade, dos corporativistas, dos bajuladores de aluguel e dos capachos e pelegos de toda espécie. Eis a hora da vingança.

Rememore fatos e acontecimentos, eleitor. Examine a vida pregressa – pública e privada – dos candidatos. Veja a obra de cada um deles. Tenha em mente aqueles que dilapidaram o patrimônio e o erário públicos e, sem o menor pudor, entregaram-no de mão-beijada aos inimigos da pátria. Recorde das privadoações das teles, das distribuidoras de energia elétrica, de saneamento básico e de água, das rodovias, das ferrovias, dos bancos estaduais e, muito especialmente, do nosso Banestado velho de guerra. Lembre-se do apagão, da economia compulsória de energia e da conta que você está pagando pela imprevidência do Poder Público e falta de lucro das concessionárias. E, por favor, não se esqueça daquelas tenebrosas figuras que, na calada da noite de uma segunda-feira de agosto de 2001, no plenário da Assembléia Legislativa do Estado, apartadas do povo por forte esquema policial, escarneceram de 130 mil cidadãos que, em um abaixo-assinado espontâneo, imploraram pela não-privatização da Companhia Paranaense de Energia, a Copel. Satanás, por certo, já é senhor dessas almas, mas necessário se faz que os eleitores paranaenses também lhes façam justiça. Aí está a oportunidade.

Cuidado com os que apenas buscam aconchego parlamentar para fugir do acerto de contas com a lei. Tenha também cautela com os “jovens talentos”, mensageiros do “novo”, filhinhos de papai, pobres marionetes, sem luz própria nem futuro, mas perigosíssimos quando no poder. E fuja como o diabo da cruz dos neomoralizadores, dos espertinhos e dos oportunistas de todos os naipes, tamanhos, procedências e matizes, que se prontificam a acabar com todos os seus problemas.

Se você é contribuinte, assalariado, dependente do salário mínimo, funcionário público (notadamente professor ou policial civil ou militar), aposentado ou pensionista (especialmente do INSS); usuário do SUS, sócio-contribuinte dos laboratórios farmacêuticos e usuário dos serviços públicos, não se esqueça disso.

Vá lá, eleitor. Levante a cabeça, estufe o peito, aspire uma boa porção de civismo, caminhe alegre e firme, e usufrua o dia de hoje. Ele é inteiramente seu. E se, por acaso, você errar outra vez, não se amofine. Um dia, nós acertaremos.

Célio Heitor Guimarães

é hoje, sobretudo, um eleitor.

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