O presidente Lula foi ao Japão com uma enorme comitiva, da qual faziam parte dezenas de empresários brasileiros. Parece que estes viajaram por conta própria, para alívio do bolso dos contribuintes. Muito embora as viagens presidenciais façam com que a opinião pública torça o nariz, pois cheiram a passeios suntuosos, esta última tinha razões de ser plausíveis. As políticas: uma aproximação econômica maior com o Japão, pois o Brasil foi um dos principais destinos de suas emigrações e, mais recentemente, das dos brasileiros descendentes de japoneses que buscam lá no Oriente uma nova vida. E nem sempre a encontram. Mas existem laços econômicos tradicionais entre Brasil e Japão e a viagem buscou estreitá-los, atraindo novos negócios e reivindicando salvo-conduto para os nossos frangos, que, para os japoneses, sempre parecem suspeitos.

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Alguns bilhões, perto de cinco, em negócios novos, teriam sido entabulados e isto não é nada desprezível. Tanto o Brasil quando o Japão querem assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Ao invés de falar em competição, falou-se em apoio mútuo, o que rendeu muitas palmas. Se disso resultará o objetivo político, o futuro dirá.

Só isso justificaria uma viagem, mas talvez não no nível da realizada, capitaneada pelo presidente Lula, com ministros e assessores e ainda duas centenas de empresários brasileiros. E muitos empresários japoneses que, convidados, foram instados a fazer investimentos diretos no Brasil. Queremos empresas e dinheiro japonês, pois afinal de contas este é um mundo global. E mundo global a gente xinga, mas não pode ignorar que exista, sob pena de ser expelido dele.

Depois de tentar ser convincente com os empresários japoneses, mostrando este imenso país que é o Brasil, perto do qual, pelo menos em território e recursos naturais, o Japão é uma titica, embora rico e poderoso pela operosidade de seu povo, Lula entendeu que deveria dar um recado também aos brasileiros. Os presentes e os ausentes. Foi então que deu um puxão de orelhas nos empresários tupiniquins, apelando para que deixem o seu acanhamento, sejam mais ousados, ampliem e criem empresas e saiam de seus casulos, deixando suas cidades, estados e País para ir investir lá fora, no Japão. Que procurem tornar suas empresas também ?desprezíveis?, porém eficientes multinacionais.

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Como se tratava de um monólogo, os empresários brasileiros não puderam dizer que aqui se cobra a maior carga tributária do mundo; que no Brasil os juros são estratosféricos e é o governo que os eleva ao primeiro lugar no ?ranking? do planeta; que a burocracia brasileira nos torna um dos países mais lerdos do mundo na organização e movimentação dos negócios das empresas; que a folha de pagamentos dos nossos empregados custa quase o dobro do que os trabalhadores efetivamente recebem. E que, no Brasil, não existem regras claras e definitivas. Tudo muda ao sabor da vontade ou palpite dos governantes, criando um clima de insegurança inadequado para quem deseja investir.