Era só o que faltava em meio à crise que abala o governo Lula e sacode todo o País: o Senado Federal, emendando medida provisória do presidente da República, aumentou o salário mínimo de R$ 300,00 para R$ 384,29.
Esse aumento, se vier a concretizar-se, será retroativo a 1.º de maio. A proposta do governo, em vigor porque MP é lei especial, excepcional, enquanto não chancelada pelo Congresso e lei de verdade, depois que os parlamentares aprovarem, modificarem, rejeitarem ou a derrubarem por não decidir tempestivamente. Proposta do senador Antônio Carlos Magalhães, num verdadeiro desafio ao governo Lula, emendou a MP, aumentando o mínimo para R$ 384,29, infligindo ao governo uma derrota por 30 votos contra 27.
Agora, a MP, já emendada, volta para a Câmara dos Deputados, que poderá jogá-la na gaveta, aprovar a emenda de ACM ou simplesmente rejeitá-la, ficando tudo como está: R$ 300,00 mensais. No caso de a Câmara aprovar a emenda, caberá a Lula sancionar ou vetar. A pior hipótese é vetar tudo, o que fará com que o mínimo volte a R$ 260,00.
A emenda ACM pesará no orçamento em R$ 12 bilhões – menos do que a soma dos mensalões -, mas dinheiro que o Tesouro vai ter dificuldades para conseguir.
Tudo isso acontece quando o Executivo propõe um caixa único do Tesouro e da Previdência, medida que já tem posição contrária dos funcionários previdenciários, mas que atende ao fato constante de que sempre o governo tem de completar o dinheiro do INSS, insuficiente para pagamento de aposentadorias e pensões, baseadas no mínimo.
Acontece também num clima em que o governo Lula e o Congresso passam por uma crise sem precedentes, com escândalos sobre escândalos, já destruída a fama de vestal do PT, de muitos petistas da cúpula do partido, de auxiliares do chefe do governo e de dirigentes de estatais. E a fila não pára aí. Ainda existem muitos parlamentares ameaçados de cassação por prática de maracutaias, recebimento de mensalões e conquista de mandatos via caixa 2. O apoio parlamentar a Lula, através da formação de uma base em que vários partidos se associaram ao PT, parece provado que foi comprada e não conquistada. E comprada com o nosso dinheiro, do povo, depois de percorrer sinuosas vias que vão de bancos a empresas de publicidade e destas ao PT para, por fim, chegar aos corruptos comprados.
Resta saber se, diante de tal situação e em meio à tempestade, terá o presidente força e coragem para aguçar os descontentamentos, rejeitando o aumento que beneficiaria milhões de brasileiros. Exatamente os mais pobres. Olhando-se o governo com um voto de confiança nos seus números e a economia nacional com ótica realística e não o oba-oba de seus próprios dirigentes, pode-se dizer que esse aumento do salário mínimo é pura demagogia. O Brasil, embora seja justo pagar muito mais aos trabalhadores, aposentados e pensionistas, não tem dinheiro para bancar essa conta. Mas, na campanha, Lula prometeu. E há quem ache que se ele se ajoelhou, tem de rezar!