O debate. Debate?!

Como todo mundo, assisti no domingo ao debate dos quatro principais candidatos à presidência na TV Bandeirantes, e como todo mundo já falou dele, creio não ter mais nada para dizer. A não ser que foi muito chato. Aliás, nem foi um debate, que segundo o professor J. Ribamar G. Ferreira, aqui mesmo neste espaço, “é o confronto entre contendores com vontade de que prevaleça o argumento de uma parte”. Com certeza não houve confronto. Ao meu televisor, pelo menos, ele não chegou.

Os nossos presidenciáveis limitaram-se a alfinetadas recíprocas, sem nenhuma consistência ou graça – com exceção, talvez, do momento em que um condescendente Lula, na réplica ao apóstolo Garotinho, afirmou que a “pureza” do candidato do PSB ainda acabaria por deixá-lo sozinho. No mais, foi aquela tristeza, ataques e defesas mal-ajambrados e o tradicional deserto de idéias. A presença da imprensa foi lamentavelmente marcada pela participação de quatro jornalistas que saíram de casa para formular apenas uma pergunta genérica a um incerto perguntado. Excesso de zelo às vezes leva a bobagens como esta.

Lula foi o melhor? Foi. Talvez o menos o pior. Mas também não disse nada e até reclamou disso. Melhor mesmo foi a Márcia Peltier, que infelizmente não é candidata.

Para não dizer que foram duas horas totalmente inúteis, direi que se prestaram, ao menos, para confirmar (a) a bruta vergonha de Serra de assumir a condição de candidato do atual governo, (b) a falsidade da postura imperial e o repetitismo do discurso autopromocional de Ciro, sempre repleto de números, imprecisões e inverdades, (c) a new face de Lula, capaz de aliar a tranqüilidade de um veterano com o desconforto causado pela nova indumentária de grife, inventada pelo marqueteiro Duda Mendonça, e (d) a absoluta desimportância do jovem Garotinho. Se a intenção era motivar o eleitor, não serviu nem como aquecimento.

Entre os coleguinhas dos jornais a repercussão foi diferenciada. Millôr, aqui em O Estado, achou, como o autor destas maltraçadas, que o melhor desempenho foi o da Márcia Peltier. “Não veio vestida de perua nem de piranha, botou roupa sóbria, pouca maquiagem e tamos aí.” Clóvis Rossi, da Folha de S. Paulo, concluiu que, ao pretender ser o candidato de FHC, sem ser o candidato do governo de FHC, José Serra tentou demonstrar a quadratura do círculo. Élio Gaspari, em O Globo, preferiu ser definitivo: “Parece até que aqueles quatro sujeitos são candidatos a governar outro país”. A solução, então, foi oferecida pelo insuperável Veríssimo, no Estadão. Depois de considerar todos os postulantes incapazes para concorrer a uma eleição de síndico, que se trata “de um cargo que requer discernimento, responsabilidade e mão firme”, sugeriu o seguinte teste: os candidatos seriam convidados a tomam banho em Paquetá (aquela bela ilha plantada na Baía da Guanabara). A escolha do calção por cada um deles seria decisiva para a opção do eleitor.

P.S. – Na coluna de domingo último, inadvertidamente troquei os padres. Onde está escrito Padre Anchieta, leia-se Padre Agostinho. Foi no cruzamento dessa rua com a Desembargador Motta que o semáforo apagado atormentou a vida dos desamparados motoristas curitibanos na quinta-feira 1.º/8.

Célio Heitor Guimarães

é um eleitor ainda quedado em desânimo.

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