Quando os governos das diversas esferas de poder não se entendem, é o cidadão quem sai perdendo. Sempre e em todos os sentidos. Se o governo federal não se dá com o estadual, lá ficam estradas com buracos, universidades sem dinheiro, saúde sem a verba para honrar compromissos e salvar doentes e por aí afora. Isso para não falar no que poderia acontecer e não acontece em termos de projetos e futuras realizações. Se o governo estadual não se entende com a administração de um município, então a coisa é pior. Pode até faltar água, luz, transporte coletivo, segurança, escola e tudo o mais.
Cada governo tem a sua competência e a sua obrigação, independentemente de cores ou bandeiras às quais cada um jura amor eterno. A bandeira maior para o homem público é, sempre, o bem-estar do cidadão – no fundo, o próprio eleitor dos próceres em litígio.
Não dá para entender, portanto, o que está acontecendo entre o governo do Estado e o governo do Município de Curitiba. Aliás, entende-se tudo e, em nome da causa pública, se exige um imediato basta. O desentendimento entre os dois governos registra conseqüências que passam dos limites do que a rude política poderia admitir como razoável. Tempos atrás foi o transporte coletivo na Região Metropolitana que sofreu amargos reveses, colocando de castigo milhares de usuários. Depois veio o desentendimento nas questões do trânsito, a partilha das multas e as complicações na hora do emplacamento de veículos. Agora é a segurança pública. Existem outros temas que levam o governo de lá a esmurrar o governo de cá, e vice-versa, mas vamos nos ater a esses três, já o bastante.
Ambos os titulares – o governador Roberto Requião e o prefeito Cassio Taniguchi – foram eleitos com o voto popular. Ambos tiveram oposição e merecem respeito. Ambos, portanto, depois de subir no trono e pegar a caneta na mão, têm obrigações para com todos os paranaenses e para com todos os curitibanos. Igualmente. Não vale a desculpa de que o que um faz não serve ao outro, nem mesmo naquelas questões em que os programas de cada um caminham para direções opostas. A obrigação de fazer da União, estados e municípios está claramente inscrita no arcabouço legal vigente e o resto – essas querelas político-partidárias de sempre – decididamente não interessa ao cidadão-contribuinte.
Nosso objetivo aqui não é fazer o papel de juiz e dizer quem tem razão na briga que está se alongando para além das fronteiras do razoável. Cada cidadão medianamente informado é capaz de tirar suas conclusões. E no dia da eleição, dar o veredito que melhor lhe aprouver. Antes, preocupa-nos que a proximidade de outra eleição, em vez de elevar o debate sobre como conferir melhorias e bem-estar à população, os que comandam a nossa política se dediquem ao esporte do soco no estômago (e por debaixo da mesa!) para debilitar o adversário e, assim, procurar tirar proveito eleitoral com a desgraça do próprio eleitorado.
O bate-boca que acaba de explodir tem a ver com segurança pública. Coisa séria. O prefeito da capital dos paranaenses acusa o governo do Estado pelo rompimento de convênios que permitiam a atuação conjunta da Guarda Municipal e das polícias Militar e Civil. O governo do Estado contesta e atira a culpa na burocracia da Prefeitura, que teria demorado para cumprir os prazos de reserva de vagas na Academia Militar do Guatupê para… não nos interessa mais saber. Ambos – governador e prefeito – precisam sentar-se à mesma mesa (ou fazer com que seus assessores sentem) e resolver esta e outras pendências. Se isso não acontecer, e logo, vai chegar o dia em que fará sentido a estranha guarda nacional de elite que o governo Lula está treinando para intervir (democraticamente, é claro…) onde for preciso. Prefeito e governador, chega de intrigas e futricas. Vamos trabalhar para o bem de todos que pagamos gastança pública e salários que nem temos a contrapartida da ação por parte dos poderes constituídos!