Tampouco pode ser colocado simplesmente nas trágicas estatísticas das vítimas do narcotráfico. O assassinato do jornalista também não pode revoltar unicamente os profissionais da imprensa, que expressam esta revolta em artigos e manifestos em que pedem justiça.
Que este crime não seja esquecido, que ele não seja substituído pelo próximo. É preciso que perpetuemos este episódio como forma de manter a luta ininterrupta pela democracia, pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos.
Democracia se faz com liberdade de expressão. Pátria livre é imprensa livre. Todos nós, cada em sua área de atuação, temos o dever de perseverar no espírito de liberdade.
Não importa de onde sejamos, não importa se os índices de criminalidade da nossa cidade não assustam, se os jornalistas que cobrem o dia a dia de Maringá e região ainda podem exercer sua profissão com liberdade.
Nada disso importa quando vemos nosso país se transformar em campo de guerra civil em determinada região. Não podemos ignorar estes sinais. Por melhor que seja a qualidade de vida de nossa cidade, não podemos nos sentir seguros quando vemos nossos irmãos sofrendo.
Não devemos nos sentir fora deste trágico contexto, considerar que vivemos num mundo à parte. Em grau menor, constatamos as mazelas de um povo que sobrevive sem oportunidades, que busca a cidadania.
Episódios como o que vitimou o jornalista Tim Lopes são sinais de alerta. Na condição de representantes da população, temos uma responsabilidade ainda maior. Temos que criar mecanismos para que nossa cidade progrida, mas que este progresso não venha acompanhado de tragédias sociais.
Érico Veríssimo disse em seu livro Olhai os lírios do campo: “De que vale construir arranha-céus se não há almas humanas para morar neles.” Estamos diante de um grande desafio. Temos que lutar pelo progresso, manter bela a nossa cidade, mas para que isto ocorra em toda a sua dimensão é preciso que o cidadão progrida, tenha saúde, emprego, educação e segurança. São itens básicos para a cidadania. O termo liberdade não significa apenas poder expressar-se. Significa viver com dignidade.
O crime organizado é um mal que deve ser combatido, mas não com medidas paliativas. Combate-se o problema no seu núcleo. Do caos social aflora a violência. Não basta, porém, dar um fim ao violento, mas transformar o País de modo que as pessoas possam viver dignamente.
Tim Lopes torna-se um mártir, uma bandeira de luta que pede paz. Um exemplo para todos que militam nesta arte, neste sacerdócio que é a imprensa. Um exemplo de brasileiro que não se conformava, que acreditava ser possível mudar o País através de suas denúncias.
É triste precisar de um mártir para que se mudem as estruturas. Mas se Tim Lopes é o instrumento para esta mudança, que assim seja. Depende da conscientização de cada um de nós.
* Walter Guerlles é presidente da Câmara Municipal de Maringá-PR
