O caso Banestado

A revelada remessa ilegal de US$ 30 bilhões ao exterior, através da agência do Banestado em Nova York, não acabou em pizza, mas está muito longe de elucidar o escândalo gigantesco que teria acontecido e espanta a opinião pública. Afinal, mas não finalmente, chegou-se a um acordo para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, não mais na Câmara dos Deputados, mas mista, ou seja, formada por membros das duas casas do Congresso, Câmara e Senado Federal. Cada uma participa com 16 parlamentares.

O governo central cedeu, pois sempre se opôs a essa CPI, argumentando que ela, sendo instalada na Câmara, atrapalharia a tramitação das reformas. E a oposição aproveitava para levantar dúvidas sobre as verdadeiras razões do boicote situacionista, desde que o Ministério Público Federal disse que políticos importantes estariam envolvidos no bilionário escândalo. Sendo mista, o trabalho de investigação parlamentar é dividido com o Senado e as reformas fluirão mais facilmente, se bem que, de qualquer forma, com empecilhos, face aos seus próprios pontos polêmicos, que encontram ferrenha oposição.

Se o governo tentou boicotar a CPI para proteger alguém ou alguns não se sabe, mas o mais provável é que tenha sido mesmo para proteger a tramitação das reformas. De qualquer forma, foi um boicote perigoso, temeroso, pois, certo ou errado, arranhou a imagem do governo. Há na opinião pública uma interpretação errônea desse pretenso desvio de US$ 30 bilhões via Banestado, ocorrido antes da venda do estabelecimento oficial de crédito do Paraná ao Banco Itaú, através de um processo de privatização. Pensa-se que essa imensa massa de dinheiro seria do próprio banco estatal, ou seja, do povo do Paraná. Ou ainda de políticos ou por eles desviada dos cofres do governo. Outra hipótese é que a dinheirama toda seria lavagem de dinheiro sujo. Foram utilizadas contas denominadas CC-5, que permitem o envio de recursos para o exterior. O banco paranaense nem teria tanto dinheiro para desviar. Nem do tesouro estadual, que por sua vez também não era tão rico. O que parece mais provável, se é que tão grande desvio ocorreu e tudo indica que sim, é que se trata de dinheiro desviado, através de vias irregulares, por pessoas físicas, jurídicas, enfim, gente rica que queria abrigar seus dólares no exterior. No meio destas, poderão estar também políticos, administradores públicos e praticantes de atos ilícitos, desejosos de fazer lavagem de dinheiro. O escândalo está em um banco oficial prestar-se a ser o duto de remessas irregulares ou ilegais de dinheiro para o exterior, quando o Brasil tanto precisava dele. Escândalo também será descobrir desvios de dinheiro público, participação de políticos e lavagem de dinheiro. Mas, certamente, não houve um desvio para o exterior, via Banestado, de US$ 30 bilhões de dinheiro só do banco ou do próprio governo paranaense. É muito dinheiro. Dinheiro que nenhum ladrão consegue roubar sem morrer de estafa.

Até agora, só um político foi referido no caso. É Jorge Bornhausen. Ele tem um irmão que foi sócio de um banco comandado pela família Dalcanalle, casado com uma tia do presidente daquela extinta instituição bancária paranaense. Relação de parentesco que, em princípio, nada tem de maracutaia.

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