É reveladora a notícia divulgada em destaque na edição de domingo de O Estado – a cada sete anos e meio, uma safra brasileira é jogada no lixo. Somos um País repleto de miseráveis e com obesos em grande número. Para completar, somos campeões em desperdício de alimentos, como se tivéssemos comida de sobra para atender nossa demanda.
Não há surpresa neste fato. O que surpreende é o fato de não ter acontecido nada nos últimos anos, desde que a imprensa começou a noticiar o desperdício de comida por todos os cantos em supermercados, centros de distribuição, restaurantes, nas nossas casas. Jogamos fora toneladas e toneladas de alimentos por estarem com pequenos defeitos ou apenas sujos. Nada que uma boa limpeza não resolveria.
E desperdiçamos coisas simples, que poderiam ser aproveitadas por quem precisa. Como os talos das verduras, que depois de anos de estudos viraram alimento de primeira necessidade nas escolas e creches do interior do País. Com elas é feito um farelo altamente nutritivo que é somado à merenda das crianças, que com isso ganham peso e saúde. Nas capitais, o importante alimento é jogado fora como se fosse a pior coisa do mundo.
Restos de comida dos restaurantes são atirados ao lixo, quando poderiam ser reprocessados e levados para instituições de caridade. Algumas casas já fazem este trabalho louvável, mas são exceções à regra. Na maioria, fazem como fazemos nas nossas casas – inutilizamos comida, ou deixamo-la armazenada por longo período, até não poder mais ser consumida.
E tudo isto, é bom repetir, ainda que vivemos em um país de miseráveis, de famintos. De pessoas que não têm renda suficiente para alimentar suas famílias, sobrevivem com a ajuda do governo federal em um projeto que, coincidência ou não, tem o nome de Fome Zero.
Todos nós somos culpados. Não há heróis nem vilões em uma história tão triste como esta.
É revoltante ver um País jogar no lixo seu bem mais precioso, abdicando de alimentar milhões de pessoas. Mais revoltante, só a inoperância do poder público e da sociedade para resolver este problema.