O governador Roberto Requião firmou posição em favor da independência do seu partido, o PMDB, em relação ao governo Lula. Essa posição se consolida, apesar de a Justiça acabar de considerar nula a convenção nacional do PMDB que decidiu pelo rompimento com o governo petista. A decisão judicial serve apenas como cobertura para os peemedebistas que, ocupando cargos no governo, decidiram nele ficar. E para o grupo situacionista do partido, que, derrotado na convenção anulada, ainda espera uma decisão da agremiação, em futura convenção, que seja favorável à manutenção do partido no situacionismo.
O governador do Paraná firmou posição em favor da independência de seu partido, mas não pregou rompimento e, sim, independência. Sempre deixou claro que o que pretende, com os companheiros de seu grupo, que conta inclusive com o presidente do PMDB, Michel Temer, é que a agremiação trilhe caminhos próprios e até concorra à sucessão de Lula. E que possa discordar, sem estar encilhada à base de sustentação do atual governo. Na base parlamentar, que o PMDB possa votar a favor do que concorda e contra o que discorda. Nas políticas de governo, que tenha a liberdade de discordar e apresentar sugestões e críticas.
É o que Roberto Requião prepara agora, quando, usando a minuta do documento "O Brasil tem saída", elaborado pelo ex-presidente do BNDES Carlos Lessa, mandou-a à consideração e emendas de vários e importantes líderes políticos do País. Lessa foi dispensado da presidência do BNDES por discordar da política econômica do governo Lula, que lhe impunha um papel que considera inadequado aos verdadeiros interesses nacionais.
Requião, como Lessa, são contra a política neoliberal do governo, comandada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e entendem que o governo atual deve seguir as linhas que prometeu em campanha: ser um governo nacionalista, voltado para o social, com compromissos com o povo e as forças produtivas brasileiras e, só complementarmente, aceitando a colaboração do capital internacional.
O governador do Paraná coloca-se à esquerda de Lula e seu governo e muito mais próximo do PT de mais de vinte anos de lutas contra o neoliberalismo. Lutas renegadas tão logo chegou ao poder. O manifesto submetido por Requião à apreciação de importantes lideranças assinala que 2005 será um ano pré-eleitoral e, portanto, decisivo, por preceder a sucessão presidencial. E alerta para o que considera um "desastre histórico". Esse desastre seria insistir em um novo ciclo neoliberal.