A onda de transformações no mundo está nas mãos dos governantes e gestores das mudanças. A boa nova é que qualquer pessoa pode se transformar em líder, empreendedor, reformador, independentemente da função que desempenha ou cargo que ocupa. Bastam iniciativa, motivação, competência, seriedade e boa-vontade. A liderança moderna necessita marcar presença num cenário em que todos se parecem iguais. É justamente nesse ponto que os líderes demonstram vocação para mudar o rumo dos fatos. A partir desse ponto, essas pessoas dispõem de recursos, sejam intelectuais ou materiais, para transformar esse pacote de boas intenções em vantagens competitivas, calcadas numa mentalidade ética, moral e responsável. Tais comportamentos são convertidos em benefícios. Assim, despontam novas frentes, tão urgentes quanto necessárias.
As repercussões desse processo começam a ser sentidas no dia-a-dia. As organizações se reinventaram a tal ponto de concluir que os modelos construídos só sob a ótica financeira estão fadados a desaparecer. Assim, o talento foi eliminado da planilha de custos para ser incorporado ao centro de investimento. Trata-se de uma mudança e tanto. Essas atitudes, tratadas como uma revolução dos mercados, trazem repercussões internas sob os mais diversos aspectos, e agregam todos em torno de um só objetivo. A sensibilidade para detectar e abraçar esta nova filosofia será o abismo entre o sucesso e o fracasso empresarial.
Cada vez mais, os profissionais abraçam a ética como agente transformador da força competitiva. Mais do que embalar um discurso eficiente ou criar boa peça de retórica, dirigentes, lideranças e empreendedores procuram minimizar riscos e maximizar oportunidades para, num segundo momento e numa perspectiva mais abrangente, fazer da gestão empresarial algo que contribua para o desenvolvimento socioeconômico sustentável, estruturada em bases sociais éticas e humanas.
Os escândalos contábeis norte-americanos desencadearam uma reviravolta definitiva no cenário dos negócios. Enquanto os executivos responsáveis pelas fraudes das demonstrações financeiras ganhavam as manchetes dos principais jornais, o ambiente empresarial sofria os efeitos de uma transformação definitiva. Em meio ao debate que se formou em torno de suas próprias contradições, o mundo corporativo viu-se na obrigação de expor as dificuldades existenciais e conjunturais para reiniciar o caminho de volta.
Essa premissa parte do princípio que, mediante a liberalização dos mercados, de nada adianta o profissional focar o lucro sem observar a cadeia de relacionamento que sustenta esse êxito. O sucesso só se configura, na prática, a partir do instante que a liderança das organizações mais avançadas consiga reunir e customizar todas essas reivindicações num só pacote de benefícios. Nesse caso, há de se valorizar o público interno da mesma maneira que os stakeholders. Esses procedimentos conservam e exaltam, de forma límpida e transparente, a aplicação dos valores éticos na conduta de seus dirigentes e colaboradores.
Vale ressaltar que a consolidação desses padrões tornou-se ponto de partida na construção dos relacionamentos. Desafio maior, no entanto, é calibrar o caminho dessa fórmula que exige mudança nas estratégias, processos e operações. É a partir desse momento que as empresas adotam comportamentos que prezam a carreira, a oportunidade de crescimento pessoal, e num último estágio, a sobrevivência individual num mercado cada vez mais enxuto, célere e competitivo.
O líder que estiver sintonizado com esta postura globalizada, expandir esta lógica, despertar o interesse da organização, redimensionar hábitos e criar ambiente de transparência para circular as informações, tem todas as chances de crescer e se perenizar na história. Dessa maneira, dar visibilidade às ações e cercar-se dos impactos de suas atitudes são indicativos seguros de que a infra-estrutura corporativa está sendo erguida em bases sólidas. Essas empresas vão se tornar mais admiradas pela forma como interagem com seus mais diversos públicos, internos e externos.
Júlio Sérgio de Souza Cardozo
é presidente da Ernst & Young na América do Sul.