O custo de vida no Brasil está entre os mais baixos do mundo. A revelação é do índice Big Mac, divulgado pela conceituada revista britânica The Economist. Os brasileiros que viajam certificam-se dessa aparentemente absurda verdade. Os preços, nos países desenvolvidos, são mais altos que os praticados no Brasil. Comer carne na Europa, nos Estados Unidos ou em países asiáticos custa uma fortuna. Frutas, no Japão, só para ricos.

Em Paris, para alugar um imóvel que não passa de uma quitinete encolhida, além de custar caríssimo, exigem que se pague um passe para o morador anterior ou o proprietário. Uma luva para poder ser inquilino. No Japão, uma maçã custa algo em torno de R$ 60,00. Como nossos turistas levam dólares ou outra moeda forte e não reais, e compram essas divisas aqui no Brasil, de acordo com o câmbio do dia, ficam com a impressão de que o nosso real está subvalorizado. Hipótese aliás bem aceitável. E na hora de pagar, se fizerem a conversão do dólar para o real, é de desistir da compra, sentar à beira da calçada e chorar.

Nos Estados Unidos, onde surgiram os famosos sanduíches da rede McDonald?s, o que custa US$ 2,65, no Brasil sai por US$ 1,38. O preço do Big Mac brasileiro é o menor entre os 42 países pesquisados pelo índice revelado pela The Economist. Esse índice é baseado na paridade do poder de compra, ou seja, um mesmo produto deveria ter o mesmo preço em dólares em qualquer parte do mundo.

Por que, então, dizemos e sentimos que o custo de vida no Brasil é tão alto?

Acontece que não somos um país desenvolvido. Preços baixos são sinais de subdesenvolvimento. Aqui se ganha muito pouco. O nosso salário mínimo está fixado em risíveis, para não dizer choráveis, R$ 200,00 por mês. A média de salários ganhos pelos trabalhadores brasileiros é ridícula e a do funcionalismo público, agora tida e havida como exorbitante por causa da pretendida reforma da Previdência, também é muito pequena. Há exceções, mas são tão poucas neste imenso país de quase 180 milhões de brasileiros que nem se pode falar em privilégios. O que existe, sim, é uns poucos brasileiros que ganham salários de primeiro mundo contra uma enorme massa de trabalhadores que vive ou na miséria ou ganhando apenas o necessário para sobreviver. Uma economia em que não há suficiente poder aquisitivo só pode ter custo de vida baixo. Se mais alto, ninguém compra, ninguém paga.

O fenômeno das emigrações de países pobres ou em desenvolvimento para países desenvolvidos, mesmo que ilegal e perigosa, não passa de uma tentativa de ganhar mais, mesmo que se tenha de pagar mais pelo que se adquire, sejam serviços ou mercadorias. Gente de nível superior daqui prefere empregos domésticos, em restaurantes, como lava-pratos, ou de babá, em países desenvolvidos, a usar seus títulos de bacharel no Brasil. Um bom exemplo é recente anúncio de concurso público em organismo ligado à Prefeitura de Curitiba. Oferecem vencimentos iniciais para funcionários de nível superior, como engenheiros e arquitetos, pouco superiores a R$ 1.000,00. Isso equivale a menos de R$ 300,00 em países desenvolvidos. Salário que nem passeador de cachorros ou lava-pratos em restaurantes aceitaria. O nosso problema é, portanto, não o custo de vida, mas os salários irrisórios.

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