O bicho Lula

Tia Lily – uma lapeana de quatro costados, com o nome do avô incrustado na relação dos bravos combatentes do Cerco da Lapa, no Panteon dos Heroes da legendária – está à beira de um ataque de nervos. Tudo por conta da Rede Globo de Televisão. A culpada, aliás, foi a bela e eficiente Ana Paula Padrão, que na edição de segunda-feira passada do Jornal da Globo aventou a hipótese, não mais tão extraordinária, de o companheiro Lula levar desta vez, já no primeiro turno.

Segundo Ana Paula, extraindo-se os confeitos inaproveitáveis da mais recente pesquisa do Ibope, Luiz Inácio está disparado na frente com 45% da preferência dos eleitores, a apenas 6% da vitória definitiva. Foi um choque para tia Lily e várias de suas (dela) contemporâneas. Chamar o barbudo de presidente, vê-lo subir a rampa do Planalto… e ainda por cima carregado pelo gentio petista?… E, depois, ouvi-lo proferir, talvez já no discurso de posse, menas ao invés de menos, comendo os esses e erres finais das palavras… Jamais! Não creio que ela chegue ao extremo de preferir a morte, mas que se sentirá, no mínimo, afrontada, isso se sentirá.

Não sou petista, nem acho que, uma vez na presidência, Lula vá resolver os problemas do Brasil. Mas também não entendo o porquê dessa paranóia contra o homem. Ele é brasileiro nato, maior de idade, eleitor e está em pleno uso dos direitos políticos. Conhece este País como poucos, já cruzou o território nacional alguns pares de vezes. Há muito vem conversando com a gente brasileira, anotando as necessidades dela. E montou no lombo de um jegue e comeu buchada de bode muito antes de FHC. Por que diabos, então, não pode governar o Brasil?! Ah, sim, ele não tem estudo! Mas estudo tinha José Sarney e FHC, e deu no que deu. Não tem emprego? E o outro Fernando, aquelle, tinha? Ou vivia de mesada das empresas deixadas pelo pai, nas Alagoas?

Nem sempre cultura e carteira assinada são essenciais. Há outros fatores a serem considerados. Quais? Decência, por exemplo. Caráter. Patriotismo. Sensibilidade social. O resto aprende-se fazendo.

Lula é barbudo? Platão, Freud, Darwin, Duque de Caxias e Jesus Cristo também eram. É baixinho? Rui Barbosa, Napoleão, Gandhi e Getúlio Vargas também eram; Romário ainda é. É nordestino? José de Alencar, Gilberto Freire, Catulo, Graciliano Ramos e Rui também eram. Era metalúrgico? E daí? Lincoln não era lenhador? É comunista? Nunca foi, nem quando o comunismo existia. Quer conquistar o poder? Ah, isso todo mundo quer, especialmente Serra, Ciro e Garotinho! É perigoso? Não. Perigoso é o George W. Bush. E aquele, desgraçadamente, já foi eleito e está sentado em cima da bomba, louco para dispará-la.

A verdade é que quem discrimina Lula apenas revela o ranço de uma elite decadente, mal-acostumada e muito mal informada, que teme perder privilégios que nem mais tem, a pobrezinha!

Collor começou o trabalho e FHC o concluiu, com distinção. Hoje, estamos todos nivelados por baixo, empobrecidos, desempregados, reféns do capital estrangeiro e dos especuladores internacionais, de um lado, e da violência nossa de cada dia, de outro.

Lula é uma esperança, mas assusta tia Lily. Ela ainda acha que, se ganhar, ele irá subdividir o pequeno apartamento que ela tem aqui em Curitiba e o seu (dela) lote de terreno urbano na velha Lapa dos nossos amores. O pânico poderá levá-la a votar em José Serra. Se ele ganhar, ela terá saudades de FHC. Anotem aí.

Célio Heitor Guimarães

é um brasileiro sem medo de ser feliz.

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