Tenho assistido à propaganda eleitoral em busca de um destino para o meu voto. Candidato a candidato, afirmam-se qualidades que eu não mais imaginava existir em profusão. Candidato a candidato, repete-se a desprendida promessa da luta por destino mais brilhante para o nosso país.

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Maravilhado com o amplo oceano de virtudes anunciadas entre belos (ou nem tanto) sorrisos, dei-me conta: tornei-me o avesso do patriota. Peço desculpas a meus filhos pela confissão que faço, mas não há outra reação possível que não a purgação pública de minhas fraquezas diante deste exército de bons homens.

Não, não tenho suficiente amor à pátria para largar o escritório durante quatro anos, ganhando um salário que não me permitirá viajar nas férias com minha família, para então, encerrado o mandato, descobrir-me exaurido, afastado de meus clientes, tendo que recomeçar uma carreira.

Não, não tenho suficiente firmeza para enfrentar os abutres do dinheiro público, os exploradores que pressionam à exaustão os agentes públicos em busca de vantagens. Não creio que pudesse resistir às ameaças, e talvez acabasse não resistindo mesmo às propinas (o que seria muito pior, na medida em que me tornaria um comparsa no roubo covarde do dinheiro produzido pelos braços dos trabalhadores brasileiros).

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Não, não tenho suficiente disposição para passar vários dias por semana em aeroportos, enfrentando horários improváveis e atrasos mais do que prováveis, para enfrentar o suplício das horas que lentamente se arrastam em salas de espera.

Não, não tenho patriotismo suficiente para gastar a poupança que com muito sacrifício formei para financiar uma incerta campanha eleitoral. Além disso, meu senso de preservação é suficiente para que eu rejeitasse propostas de financiamento cujos custos certamente viriam, e custariam minha consciência e meu direito de aconselhar a moralidade a meus filhos.

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Não, não tenho suficiente desprendimento para ser publicamente criticado, já que não há política sem oposição. Aliás, meu medo vai bem além das simples críticas, já que tantas acusações injustas têm sido dirigidas a nossos representantes, cuja admirável força interior permite que se dirijam à nação para nos tranqüilizar com a afirmação sua inocência, com a certeza de que a verdade está com Deus e que a conspiração será esclarecida com o tempo. Nunca tantos foram tão injustamente acusados de práticas vis, e eu não gostaria de me ver vítima de uma imprensa que nada deseja senão acabar com a imagem dos honestos.

Não tenho força para tanto. Também não tenho fraqueza de caráter para justificar tanto sacrifício com o enriquecimento fácil, com a participação em negociatas, ou com a venda de meu mandato a quem pague mais. Mas destes políticos não há mais, a julgar pelo que vejo na TV.

Resta-me admirar a coragem dos que enfrentam estas dificuldades para nos conduzir nos mares revoltos desta era de incerteza.

Resta-me admirar estes abnegados, que aceitam com sorrisos no rosto estas privações que não tenho a coragem de trazer para próximo de mim ou de minha família.

Fábio Tokars é mestre e doutor em Direito. É advogado. É professor de Direito Empresarial na PUCPR, no curso de Mestrado em Direito do Unicuritiba e na Escola da Magistratura do Estado do Paraná. flt@marinsbertoldi.com.br